29 julho, 2008

Lançamento "O engraxate e outros suicidas" na Casa da Cultura de Sobral

Mendes Júnior

Diego Pinto, Monique Pinto e Diva Elisa

Mendes Júnior e José Wilton

Herbert e Mendes Júnior

André Adeodato, Diva Elisa e Mendes Júnior

Mendes Júnior, Tião e André Adeodato

Aleandro e Iana

Mendes Júnior e Roberto Sales

Rodrigo Araújo e Mendes Júnior

Dr. Walter Neto, Luciana e Filho

16 julho, 2008

Indicações Musicoliterárias


Estamos comemorando os 50 anos da Bossa Nova. É possível que todos tenham conhecimento do fato, que considero de grande relevância, por várias razões, as quais não nominarei, senão dizer da mais simples de todas: sou fã. Na Flip (Feira Literária Internacional de Paraty) deste ano, uma das mesas foi dedicada ao assunto, composta por um de seus fundadores, Carlos Lyra, que nos brindou com histórias deliciosas de uma época que não se vive mais, e que há muito deixa saudade. Estarei, nos próximos dias, indicando obras relacionadas com a Bossa Nova, desde nomes daqui quanto de bem longe destas plagas, como forma de compartilhar a música brasileira.

O primeiro disco que trago ao blog foi gravado em apenas dois dias: 27 e 28 de agosto de 1962, na cidade de New York, e tem o selo Verve. Isto não significa, ou seja, a gravação em dois dias que o trabalho foi descuidado, ao contrário, muito bem arranjado e tocado por um time de primeira. Refiro-me ao "Big Band Bossa Nova", de Stan Getz. Razões desfilam para comprovar a riqueza do disco. Os arranjos são de Gary McFarland, um dos mais significativos para as orquestras de jazz nos anos 60, que tem parte de sua discografia relacionada ao "latin jazz" e ao "samba". Outra questão a se levar em consideração é o repertório: "Manhã de Carnaval", "Samba de Uma Nota Só", "Bim Bom" e "Chega de Saudade" são nossas conhecidas, mas a maneira como são conduzidas, não; ficaram fantásticas, e não pensem se tratar de um exagero. Há ainda as músicas do próprio Gary McFarland: "Balanço no Samba", inspirado no filme "Orfeu Negro"; "Entre Amigos", que tem uma maravilhosa entrada; "Melancolico"; e "Noite Triste". Importado, mas vale conferir.

Músicos: Stan Getz (tenor saxophone); Gary McFarland (conductor); Doc Severisen, Bernie Glow, Joe Ferrante, Clark Terry, Nick Travis (trumpet); Ray Alonge (French horn); Tony Studd, Bob Brookmeyer, Willie Dennis (trombone); Ray Beckenstein (flute, clarinet); Gerald Sanfino (flute); Eddie Caine (alto flute); Babe Clark, Walt Levinsky (clarinet); Romeo Penque (bass clarinet); Hank Jones (piano); Jim Hall (guitar); Tommy Williams (bass); Johnny Rae (drums); Jose Paulo (tambourine); Carmen Costa (cabassa).


Esteja dito.
Mendes Júnior

15 julho, 2008

Lançamento "O engraxate e outros suicidas" na Casa da Cultura de Sobral

Mendes Júnior

Mendes Júnior, Aleandro Linhares e Iana

Aryana Lima, Suellen Luna e Luana Lima

Suellen Luna e Carlos Antonio

Dr. Cícero, Joyce e Filhos

Chico Prado e Mendes Júnior

Zélia Mendes Carneiro e Mendes Júnior

João Sales e Mendes Júnior

Portas azuis


15/07/2008.


As batidas das portas do fundo provocaram arrepios em Madalena, haja vista sua mão que não desgrudava do meu pijama. Apertava com mais vigor a cada nova bordoada. Suas unhas descascadas e longas, antes apenas maliciosas, perfuraram o pano e cravaram na pele da minha cintura. Pedi que se acalmasse, não era nada demais, apenas um forte vento anunciado mais cedo pelo cheiro da terra. Disse-me que, em pesadelo na noite do santo, havia acontecido exatamente igual: o telhado desabaria em pouco tempo. Claro que não lhe dei ouvidos. Num esforço que só Deus era testemunha, levantei-me; fui até a cozinha resolver o problema que me tirava do sono. Até o Biriba estava com uma expressão de medo – um gato que herdara junto com a casa. Buscou abrigo ao lado da geladeira, diante do olhar vigilante de um pingüim de cerâmica, que, do alto, planificava o abatimento daquele que ameaçava seu território. Vez ou outra Biriba levava um choque e miava estranho. O pingüim de cerâmica insuflava o peitoral alvinegro. Das três portas, somente duas estavam escancaradas; faziam movimentos compassados, mas de forma a se desvencilharem das paredes antigas.
A casa foi herança de uma tia, que talvez se chamasse Francisca das Dores. Estava talhado no tronco da árvore que ficava no quintal: “Quintino Alves e Francisca das Dores, eternamente”. No cartório, o que se leu foi bem diferente: Marlúcia Dias, que morrera aos cinco dias de fevereiro do mesmo ano, solteira, deixou ao único familiar, eu, o casarão da rua Moraes de Figueiredo, bem como todos os bens móveis de seu interior e semoventes. Madalena e eu nos mudamos no começo do outro ano.
As portas eram azuis, como azuis eram os olhos do Biriba, que nunca estiveram tão esbugalhados quanto durante a ventania. Madalena gritava pelo meu nome quando subi na cadeira para fechar os ferrolhos de cima. Portas com fechaduras no alto, no centro e no chão, altas, grossas, sem maçanetas e com dobradiças enferrujadas e alardeadeiras. Foi necessária muita força até descobrir que era incapaz fechá-las. Levei uma pancada no rosto e cai de costas. Durante um período, fiquei olhando o telhado; imaginei o pesadelo de Madalena se tornando realidade. Senti um molhado na perna. Não havia reparado, mas descia um fio de sangue da minha cintura. As unhas de Madalena agora me pareceram uma navalha. Do meu nariz, já era diferente: o sangue jorrava.
O vento não dava trégua e o barulho começou a vir de outra parte – talvez da entrada do casarão. A terceira porta do fundo também se abriu. A minha impressão foi de que não havia separação com o lado de fora, como se não mais existissem paredes, somente o teto. Por sorte, não chovia. Madalena, de tanto gritar, deve ter cansado e dormido. Não consegui me mexer; permaneci deitado no chão. Olhei de lado e não vi o Biriba. No alto, vigas sólidas prendiam telhas cobertas de uma camada esverdeada; nas madeiras mais finas se viam agarradas cascas de laranja – meninices de outras épocas. O telhado não desabaria, pensei comigo, enquanto ao meu redor se formava uma enorme poça de sangue. Minha vista foi ficando turva, as imagens desaparecendo e os ossos sendo assolados por uma frieza incomum; notei meu corpo afastado de mim: não comandava ação alguma. Madalena, minha doce Madalena, você estava com a razão: não há mais teto para mim; o breu é o que tenho diante dos olhos; tudo se fez noite; miro o telhado e não dou com ele.
O rumor continuou vindo das portas em encontrões até o amanhecer, mas Madalena, por dormir em profundidade, já não escutava. Biriba, de um salto, se juntou ao pingüim de cerâmica em cima da geladeira; ficaram amigos; às vezes brincam no quintal, ao pé da árvore. Sobre suas cabeças, dias ensolarados e noites estreladas. Por sorte, nunca chovia e o casarão permanecia seco.
Mendes Júnior
* Painting by David de Almeida, "Fan 8".

14 julho, 2008

Lançamento "O engraxate e outros suicidas" na Casa da Cultura de Sobral

Mendes Júnior e Amigos


Mendes Júnior e Adaldécio Linhares


Mendes Júnior e Família


Dr. Judicael Sudário, Mendes Júnior e Carlos Antonio


João Ribeiro e Mendes Júnior


Mendes Júnior, Kennedy e Beth Vasconcelos

Mendes Júnior e Sebastião Albuquerque

13 julho, 2008

Psicologia como ciência – a crise da subjetividade privatizada




Uma questão interessante que, por certo, merece destaque no estudo do surgimento da psicologia como ciência no século XIX, na minha opinião, trata-se da subjetividade privatizada. No excelente trabalho Psicologia – uma (nova) introdução, dos professores Luís Cláudio Mendonça Figueiredo e Pedro Luiz Ribeiro de Santi, deparamo-nos com duas condições (fundamentais) para o conhecimento científico da psicologia: uma experiência clara da subjetividade privatizada e a experiência da crise desta mesma subjetividade. Mas o que vem a ser a subjetividade privatizada? Pelo que percebemos, estamos falando da nossa individualidade, dos nossos desejos, do nosso “eu”, enfim, daquilo que está dentro de nós e que somente nós temos contato. E quanto à crise? Bem, estaríamos diante das transformações culturais ao longo dos anos, tais como religiosidade, arte, valores, costumes etc., determinando, de certa forma, a subjetivação e a individualização. Mas é aqui que o homem percebe que conceitos como liberdade, individualidade e igualdade não passam de meras ilusões. Há uma perplexidade, inclusive quando descobre não existir muita diferença entre os homens.
No entanto, importa ressaltar – e o contrário seria difícil de entender –, que as transformações supracitadas se deram no seio da sociedade, socialmente, politicamente e economicamente, e somente a partir do reconhecimento da instância individual do homem dentro desta mesma sociedade é que a psicologia é aceita como ciência. Mas para isto estamos falando de três séculos: do Renascimento à Idade Moderna, e, durante este longo período, o homem chega a ser valorizado, diante da concepção de que ele seria o centro do mundo e totalmente livre para trilhar seu caminho (e Deus?), até a crise da soberania do “eu”.
Abordando de forma sucinta cada época, podemos afirmar que no Renascimento a figura de Deus parece ter se distanciado e se colocado sobre o mundo, fazendo com que o homem passasse a controlar a natureza. Há, portanto, uma valorização do homem, nascendo, por sua vez, o humanismo moderno. Um assunto, a meu ver, de extrema importância é que aqui surge a filosofia grega do ceticismo, para a qual era impossível ao homem um conhecimento seguro do mundo. Em suma: o homem começa a criticar e duvidar do próprio homem. Além do mais há um nascente individualismo, que acaba produzindo reações: racionalistas e empiristas, que, de acordo com os professores supracitados, tratam de estabelecer bases novas e mais seguras para as crenças e ações humanas.
A partir de então, a figura do homem volta a se sujeitar a uma ordem superior, ocorrendo a desvalorização da própria individualidade e o conflito da liberdade, conforme já anunciamos acima. Esta tal superioridade parte da religião (Reforma e Contra-Reforma), e o indivíduo passa a ser devidamente controlado. Buscamos, com isso, apenas retratar, mesmo que de forma rasteira, as fases pelas quais passaram a subjetividade privatizada.
Dando um salto até a modernidade, não esquecendo, é lógico, da idéia cética, o “eu” deixa de ser soberano. Mas por quê? Surge a problematização da crença em conhecimentos absolutos, e isto perpassa pelo Iluminismo, pelo Romantismo (“é um momento essencial na crise do sujeito moderno pela destituição do ‘eu’ de seu lugar privilegiado de senhor, de soberano”), pela filosofia nietzschiana, para qual as idéias de “eu” ou “sujeito” são interpretadas como ficções, incentivando muitas restrições ao seu ponto de vista, principalmente quando afirma que é ilusório o fazer humano, e pelas condições sócio-econômicas, momento em que os homens são reduzidos à dependência dos proprietários dos meios de produção, são explorados e violentados – não há liberdade, não há igualdade.
Com isso, claramente percebe-se a necessidade das crises da subjetividade privatizada, a fim de que a psicologia seja científica. Significa dizer que tais experiências induzem os homens a pensarem acerca das causas e do significado de tudo aquilo que fazem, causam uma reflexão do que somos, quem somos, como somos e por que tomamos determinadas ações. E, para tanto, a ilusão da liberdade e da igualdade são pedras fundamentais na construção dos questionamos humanos e, obviamente, na condução de projetos da psicologia como uma ciência independente, pois a crise da subjetividade requer uma solução, e é na psicologia o caminho a se percorrer.


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FIGUEIREDO, Luís; SANTI, Pedro. Psicologia: uma (nova) introdução. 2. ed. São Paulo: PUCSP, 2007.
Mendes Júnior
* Publicado em Cronópios, em 07/07/2008;
** Painting by Romero Carrasco, "Untitled 16".