tag:blogger.com,1999:blog-385704032024-03-05T18:44:24.157-03:00Literatura e Cultura - Mendes JúniorMendes Júniorhttp://www.blogger.com/profile/06083854217559604868noreply@blogger.comBlogger131125tag:blogger.com,1999:blog-38570403.post-54436511835339538872015-05-13T11:57:00.000-03:002015-05-13T11:57:42.016-03:00<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span lang="PT" style="font-size: 14.0pt; mso-ansi-language: PT;">Uma farândola de infinito e
eternidade – 35 anos da vida de Haňt’a<o:p></o:p></span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<span lang="PT" style="font-size: 10.0pt; mso-ansi-language: PT;">“Livros raros perecem na minha
prensa, <o:p></o:p></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<span lang="PT" style="font-size: 10.0pt; mso-ansi-language: PT;">sob minhas mãos, <o:p></o:p></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<span lang="PT" style="font-size: 10.0pt; mso-ansi-language: PT;">contudo não consigo deter o seu
fluxo:<o:p></o:p></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<span lang="PT" style="font-size: 10.0pt; mso-ansi-language: PT;"> não passo de um açogueiro refinado”<o:p></o:p></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<span lang="PT" style="font-size: 10.0pt; mso-ansi-language: PT;">(Haňt’a – Uma solidão ruidosa)<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span lang="PT">Sobre Bohumil Hrabal, o também escritor Tcheco
Milan Kundera foi categórico: "Uma das encarnações mais autênticas da
Praga Mágica". Tal assertiva diz muito sobre a sofisticação do Realismo
Mágico em <i>Uma solidão ruidosa</i>, um dos
últimos trabalhos de Hrabal, nascido em 1914, na cidade de Brno-Zidenice, na
antiga Tchecoslováquia, morrendo em Praga no ano de 1997. <i>Uma solidão ruidosa</i> foi publicado em 1976, no auge da repressão na
URSS, da qual fazia parte a Tchecoslováquia. Uma questão que merece destaque é
que, assim como o estranho herói da curta narrativa, Hrabal trabalhou em
depósito de reciclagem, algo que sentimos na credibilidade das fortes imagens criadas
no livro. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span lang="PT"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT"> Nas linhas iniciais de <i>Uma solidão ruidosa</i> temos a noção exata
por qual terreno o narrador </span>Haňt’a nos fará seguir: “Já faz trinta e cinco anos
que cuido de papel velho, e essa é a minha <i>love
story</i>. Faz trinta e cinco anos que eu compacto livros e papéis velhos, me
lambuzando com as letras até eu mesmo ficar parecido com as minhas
enciclopédias (...)”. Esclarece-nos também acerca da natureza de seu pensamento,
o qual é recorrentemente alusivo através de citações de nomes como Hegel,
Goethe, Schiller, Nietzsche, Schopenhauer, Kant, entre outros: “Minha educação
ocorreu tão inconscientemente que não consigo dizer bem quais pensamentos vêm
de mim e quais vêm dos livros (...)”. E, por fim, demonstra a forma com a qual encara
a leitura: “Pois quando leio, não é apenas ler o que faço; eu jogo uma linda
frase na boca e a chupo como uma bala de fruta, ou a sorvo como licor, até o
pensamento se dissolver em mim feito álcool, infundindo-se no cérebro e no
coração e atravessando as veias até a raiz de cada vaso sanguíneo”.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhlRXkGvt529gFpTqwYFiiGgoH9i624ha0XlRH8VXBXusJ-kjd_SNAJlqedYAstUTCicbAdMgoQSaSdxFnr_cDC5ZhPz0Jb8dm_QBhQ1n8nBqy9dk9a0_m4xKOechVihfgRRmr7Mg/s1600/9788535916355.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhlRXkGvt529gFpTqwYFiiGgoH9i624ha0XlRH8VXBXusJ-kjd_SNAJlqedYAstUTCicbAdMgoQSaSdxFnr_cDC5ZhPz0Jb8dm_QBhQ1n8nBqy9dk9a0_m4xKOechVihfgRRmr7Mg/s200/9788535916355.jpg" width="133" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhlRXkGvt529gFpTqwYFiiGgoH9i624ha0XlRH8VXBXusJ-kjd_SNAJlqedYAstUTCicbAdMgoQSaSdxFnr_cDC5ZhPz0Jb8dm_QBhQ1n8nBqy9dk9a0_m4xKOechVihfgRRmr7Mg/s1600/9788535916355.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><br /></a><span lang="PT">Mas, afinal, quem é Haňt’a,
além de alguém que em trinta e cinco anos compactou livros e bebeu cerveja
suficiente para encher uma “piscina olímpica”? Um sujeito que habita um
conformismo estranho – “essa era a minha sina, pedir perdão, eu até pedia
perdão de mim mesmo por ser o que eu era, por minha natureza” –, porquanto
aceita a bagatela que lhe é oferecida pelo destino, desculpando-se para tanto com
motivos extraídos dos livros e do âmago da atividade que realiza. Parece-nos,
contudo, encarar a vida sem consciência plena, capaz de estar permanentemente
divagando. Ressalta ligeiro – até por não suportar bêbado – que bebe para que a
leitura o impeça de cair num sono profundo ou lhe cause um “<i>delirium tremens</i>”. O contraditório se
insere com força na vida de</span><span lang="PT" style="font-size: 14.0pt; mso-ansi-language: PT;"> </span><span lang="PT">Haňt’a,
pois bem o sabemos se comunicando sem cautela, descobrindo que “os céus não são
caridosos, nem os céus, nem qualquer homem sensato”, mas poucas palavras são de
fato suas, haja vista a confusão gerada a partir da absorção de frases alheias.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT"> Para o leitor que acredita
numa solidão seca e má, Haňt’a refuta: “Consigo ficar no meu canto porque nunca
estou solitário, mas apenas sozinho, vivendo na minha solidão densamente
povoada, uma farândola de infinito e eternidade, e o Infinito e a Eternidade
parecem gostar de tipos como eu”. E a todo momento não nos deixa esquecer sua
companhia permanente: os livros, bem como a justiça concreta emanada do seu trabalho:
trinta e cinco anos salvando toneladas deles, seja vendendo para um professor,
doando a um amigo ou guardando dentro de sua valise, levados até seu minúsculo
apartamento, e compondo as duas toneladas que praticamente ocupam todos os
espaços, inclusive acima de sua cama. Mas nem a nobre razão é capaz de fazê-lo
descansado, pois às vezes escuta livros tramando uma vingaça em razão dos seus
atos. No entanto, quando titubei, não se contém: “no fluxo de papel velho a
lombada de um livro raro vez por outra luzirá, e se por um instante eu me
afasto, encafifado, sempre volto a tempo de resgatá-lo (...)”. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span lang="PT">Para Haňt’a, folhear livros dá sentido a tudo,
inclusive ao acúmulo de trabalho, causador da ira de seu chefe, mas nada tão irresistível
quanto permanecer imerso com um volume nas mãos, lendo “a primeira frase como
uma profecia homérica” e sonhando vivamente “numa terra de grande beleza”. Todo
envolvimento sem limites tem um preço – somos levados a constatar. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span lang="PT"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span lang="PT">E é no submundo, no seu mundo, que Haňt’a amolda-se
em segurança, pois sabe que há gente sobrevivendo em condições tão precárias
quanto as dele e também capaz de pensar. Mesmo descobrindo haver uma guerra – “uma
guerra total, humana” – aos seus pés, entre ratos brancos e marrons, “facções
organizadíssimas”, pela supremacia dos esgotos de Praga, é com os roedores,
“criaturinhas amigáveis”, que se cerca de uma convivência angustiante e
estúpida: “(...) uma coisa temos em comum, ou seja, uma necessidade vital de
literatura, com preferência acentuada por Goethe e Schiller encadernados em
marroquim”. Não bastasse, sua sujeira é cordial ao meio, controlando a higiene
com lavagens esporádicas, ainda assim quando dominado por uma “beleza grega”. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span lang="PT"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEihB96Su24DilbvkQqy7yU18c8GLXX7RXVUHQgwaeNRXJq-I7hI8iuIO3UpYJ5FILdis3kltRJmDvqFg3rVqLp85as1KQlbkXsbpYvaRt_zWRnPhXNOf4fCIl81luwJFqLdQX9_SQ/s1600/marta-aoiz-linares-artwork-medium-68339.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="197" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEihB96Su24DilbvkQqy7yU18c8GLXX7RXVUHQgwaeNRXJq-I7hI8iuIO3UpYJ5FILdis3kltRJmDvqFg3rVqLp85as1KQlbkXsbpYvaRt_zWRnPhXNOf4fCIl81luwJFqLdQX9_SQ/s200/marta-aoiz-linares-artwork-medium-68339.jpg" width="200" /></a><span lang="PT"> Com exceção dos roedores,
quase nada alcançamos socialmente na vida de Haňt’a, embora não escapem
passagens incomuns: a cremação de sua mãe, atraente pela comparação do
procedimento com a engrenagem da prensa hidraúlica; a presença de um tio, que mantém
uma pequena locomotiva no jardim de casa, pois, aposentado como ferroviário,
descobrira ser impossível viver longe do trabalho, despertando em Haňt’a a
ideia de fazer o mesmo com a prensa; e Mančinka, uma garota marcada por dois
episódios constrangedores, mas que “sem ter conhecido a glória, jamais
renunciaria à vergonha”. O resto é composto por arroubos e sonhos, como Erasmo
de Roterdã, montado em seu cavalo, perguntando-lhe como chegar ao mar. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT"> Após anos imerso num
complexo de Sísifo, Haňt’a se descobre inútil com o surgimento de uma prensa
automática capaz de destruir livros em quantidades assustadoras – a qual, na sua
imaginação, irá aniquilar a cidade de Praga, com sua tradição e cultura milenar
–, além do aparecimento da Brigada do Trabalho Socialista, com seus jovens e
eficientes operários, pronta para fazer desaparecer tiragens inteiras de livros
em poucas horas. Mas Haňt’a nos tinha alertado: “Já faz trinta e cinco anos que
compacto papel velho e, se eu pudesse escolher, faria exatamente o que fiz nos
últimos trinta e cinco anos”.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT">1. Imagem de "Uma solidão ruidosa": divulgação;</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT">2. "Books" by Marta Aoiz Linares. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT"> <o:p></o:p></span></div>
Mendes Júniorhttp://www.blogger.com/profile/06083854217559604868noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-38570403.post-43748471181896891132015-04-25T11:22:00.001-03:002015-04-25T11:22:20.768-03:00Uma partida de xadrez<div style="text-align: justify;">
O psicólogo e pedagogo francês Alfred Binet, em fins do século XIX, por meio da psicometria, realizou um dos primeiros estudos acerca do xadrez. Investigando o comportamento de mestres enxadristas, concluiu que são elementos essenciais no processo cognitivo da mente destes jogadores a experiência, imaginação e memória. Afirmou, ainda, que o xadrez contém poder de concentração, nível de instrução, memória visual, talento estratégico, além de paciência e coragem. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgS1RBEHdMx8T5raH0f32fnLedCL31GR6rJ9kIm0jOf7c63s9eANvQbhlYhewy8QLdD1L-RN9bze9vsyAVFwQmnB1a_9N7IzXdvRI78bxgAzRwhXz0LDYFUwT379HlgpP-T8bxwUQ/s1600/ricardolisias-concentracaoeoutroscontos.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgS1RBEHdMx8T5raH0f32fnLedCL31GR6rJ9kIm0jOf7c63s9eANvQbhlYhewy8QLdD1L-RN9bze9vsyAVFwQmnB1a_9N7IzXdvRI78bxgAzRwhXz0LDYFUwT379HlgpP-T8bxwUQ/s1600/ricardolisias-concentracaoeoutroscontos.jpg" height="200" width="128" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
A literatura parece ser um lugar apropriado para reunir tantos quantos necessários personagens sob o manto dos elementos da mente dos mestres enxadristas. Respeitadas as características intrínsecas, não é de hoje que o xadrez é referido na literatura, mas nem sempre se buscou o rigor de transformá-lo em matéria-prima de uma obra; ou, pelo menos, em parte. Em “Concentração e outros contos”, que não é um livro sobre xadrez, Ricardo Lísias harmonizou com maestria personagens frágeis, penitentes, desestruturados e desencontrados, ainda que sem identidades, em ambientes às vezes inofensivos, outras nem tanto, como quem desloca com destreza e coragem as peças em um tabuleiro.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Neste livro, que reúne seus principais contos, percebe-se claramente que a escrita de Ricardo Lísias é tão precisa quanto um <i>shan mat</i>. Após o enfrentamento por 64 casas, necessário reformular algumas jogadas, manter a concentração na peça adversária, respeitar as dores provocadas pela lógica e duvidar sempre do quão se é capaz de prever a vitória (ou a derrota) para o mate literário. Mesmo que os textos tenham sido escritos em épocas distintas, eles compõem, de certa forma, uma unidade, em razão da perspectiva de cada personagem. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
O desconcertante conto “Dos nervos” cadencia-se por uma linguagem que sofre verdadeiras mutações, haja vista as diferentes repetições, se assim podemos dizer, além de cortes “civilizados e inteligentes”. Vê-se alguém aturdido em face da solidão, enquanto, em paralelo, joga-se uma nervosa partida de xadrez em “um dia crucial para a continuidade das reformas de Gorbatchov”. O título é capaz de, desde já, muito explicar, mas se engana quem pensa que a literatura de Ricardo Lísias é previsível. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O conto “Fisiologia da solidão” se amolda na necessidade de repetição; aliás, de uma verdadeira obsessão! Esta indiscutível característica do mestre é também do narrador – um escritor solitário –, para o qual “a técnica, portanto, é uma obsessão: é a mesma coisa repetida incontáveis vezes com algumas variações mínimas”. Isto porque à personagem resta escrever, mesmo que seja difícil se expressar exatamente como se quer, pois “a literatura ameniza a solidão”. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Já no saboroso conto “Evo Morales” – sim, o presidente da Bolívia! –, o narrador é um jogador profissional de xadrez que se encontra algumas vezes com o bochechudo Evo Morales em aeroportos, enquanto embarca e desembarca para campeonatos, e que constrói com ele uma sensação de amizade. O narrador busca algo nesta relação: “notei como me sinto bem na presença dele e fiquei um pouco triste”, exaltando uma qualidade de Evo Morales que é um pré-requisito para um bom enxadrista: a memória, tema este que é também trazido no conto “Fisiologia da memória”. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Aliás, os outros contos que fazem parte das chamadas “Fisiologias” são particularmente dotados de muita força, pois não se eximem de tratar de sentimentos caros ao homem. Em “Fisiologia da infância” e “Fisiologia da família” os narradores, por meio de lembranças familiares, confrontam-se com a expressão de uma palavra não dita, enquanto que no conto “Fisiologia do medo” a culpa se mistura ao drama do suicídio de um grande amigo, que se integra ao “Fisiologia da dor”, dizendo-nos o narrador: “atendi ao telefone e soube que a polícia havia achado o corpo do André enforcado algumas horas antes. No início, agi com uma serenidade que só pioraria as coisas”. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Para Ricardo Lísias, parece pouco importar o nome dos narradores, mas às vezes faz disto uma “obsessão”, como em “Concentração”, o conto que dá título ao livro. O narrador chama-se Damião, enquanto que todos os outros personagens são variações: Dani e Damian. Neste curioso conto, Damião, para arrefecer suas crises de solidão, barbeia-se compulsivamente, chegando ao ponto de se cortar, enquanto procura em Buenos Aires – país em que ninguém mais sabe dançar tango e jogar xadrez – por dois jogadores de xadrez e um casal de bailarinos de tango. Com uma sensação vertiginosa, o narrador passeia por uma cidade que não enterrou seus problemas políticos. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O autor já declarou ter interesse no tema da política na literatura, em especial a latina, e geopolítica. Consegue-se enxergar isto em seus textos; às vezes, de modo expresso, quando em “Fisiologia da solidão” o narrador diz que escreve por dois motivos, sendo um deles a política. É natural, portanto, acharmos que o personagem – digamos – de “Concentração e outros contos” seja o alter ego de Ricardo Lísias, principalmente com “Autoficção”, conto cujo narrador tem o nome do autor, que desiste da literatura para se dedicar às artes plásticas. Mas, a bem da verdade, trata-se de ficção – uma ficção escrita com talento e estratégia, como se houvesse um projeto por trás da exploração da linguagem. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
No livro “El Hacedor”, de 1960, Jorge Luis Borges dedicou um poema à arte de reger as peças no tabuleiro, chamado “Xadrez”, através do qual riscou com magia a sentença: </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiiI0Zb8tpTYU6-gHdFHIIg7Ro2hse2ITzkUzgpppHGAf4padmpVVZs9o8b6IVtby_3Tp5eV4fOUdDdZMd02qD8hdqcMiD3HxN6vHoU0bT7zEHtpoM_ZXoRFEOcbzMr2fCdYuegPA/s1600/miguel-angel-giron-calero-artwork-medium-108351.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiiI0Zb8tpTYU6-gHdFHIIg7Ro2hse2ITzkUzgpppHGAf4padmpVVZs9o8b6IVtby_3Tp5eV4fOUdDdZMd02qD8hdqcMiD3HxN6vHoU0bT7zEHtpoM_ZXoRFEOcbzMr2fCdYuegPA/s1600/miguel-angel-giron-calero-artwork-medium-108351.jpg" height="150" width="200" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
“Em seu austero canto, os jogadores </div>
<div style="text-align: justify;">
Regem as lentas peças. O tabuleiro </div>
<div style="text-align: justify;">
Os demora até o alvorecer nesse severo </div>
<div style="text-align: justify;">
Espaço em que se odeiam duas cores. </div>
<div style="text-align: justify;">
(...) </div>
<div style="text-align: justify;">
Também o jogador é prisioneiro </div>
<div style="text-align: justify;">
(A máxima é de Omar) de um tabuleiro </div>
<div style="text-align: justify;">
De negras e de brancos dias”. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Pois bem, o enxadrista Ricardo Lísias conduz sua obra com extrema competência literária, reorganizando palavras com a obsessão dos mestres. Através da concentração e imaginação apuradas, o prisioneiro da linguagem sabe como ninguém estabelecer a dança de suas peças, que vez em quando são obrigadas a serem engolidas por outra estrategicamente mais forte. E, para este incisivo jogador de xadrez, como quer Borges, o rito nunca acaba.
</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
1. Imagem de "Concentração e outros contos": divulgação;</div>
2. "Chess" by Miguel Angel Giron Calero;<br />
3. <span style="font-family: 'Times New Roman', serif;">BORGES,
Jorge Luis. Obras Completas II. 1ª ed. São Paulo: Globo, V. 2, p. 211, 1999.</span><br />
<br />
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif;"><br /></span>
<div class="MsoFootnoteText">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif";"><br /><o:p></o:p></span></div>
Mendes Júniorhttp://www.blogger.com/profile/06083854217559604868noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38570403.post-70191557298296758492011-07-04T20:15:00.007-03:002011-07-04T21:15:43.398-03:00Cadernos de Viagem - Potsdam<div align="justify">O Novo Palácio de Potsdam (Neues Palais) é um antigo Palácio real da Prússia localizado no lado oeste do Parque Real de Sanssouci, em Potsdam, na Alemanha. Uma construção inciada em 1763, após o fim da guerra dos sete anos, para celebrar o sucesso da Prússia, por Frederico "O Grande", e finalizada apenas em 1769, tornando-se um esplendor em mármore, pedras e dourados. Com estilo rococó e barroco, tinha mais de duzentas salas, um teatro, uma sala de concerto, duas antecâmaras, um estúdio, entre outros ambientes. Mais de quatrocentas estátuas e figuras em arenito adornam o palácio. Esta foi a forma encontrada por Frederico "O Grande" para externar o poder e a glória da Prússia. Confesso que, por alguns momentos, quando lá estive, passei horas imerso numa sensação de grandeza e plenitude. Os jardins são especiais também.</div><br /><br /><div align="justify"></div><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; DISPLAY: block; HEIGHT: 240px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5625652277359551506" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg7v0bv9tUdLqjv4LGacSwjFpt1AWxrJ2hK6fGiC0dQpqwua4vGM0QF1rKbklC72tNkb2_GOM2RlTXeJAJDHSfB2NqmVhyphenhyphenz2iibzrFHo2g2HpFV7g8xQrucuPPGgT5GFvY0mDp3nA/s320/P1010062.JPG" /><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; DISPLAY: block; HEIGHT: 240px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5625652269482493186" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiETMViHwgVZG-n5WcjuMAI1RPAOeSXoS-MaJeEcsdu8o58XJA1X9p2SczJF73uyDAhrAtqb2DK0UuFWRm9omHPYM6wfV3zcylqj9BfGMC6uguMn8ymaVDRWqRMSaLZwNIZxEJeBA/s320/P1010072.JPG" /><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 240px; DISPLAY: block; HEIGHT: 320px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5625652282581892306" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg1Pctf7k-rSDQX8iV2IWUYkLAxwsI0ee_Gc4tuJFxN5YdazpvEhO1cyxUWtz7H16jwx6eiwoPVWQRNqYU8_TlZxzTjm52tcDovCFMgQ0JkKYz7-c62U85u9kDh9p8CK6P1SGSDZQ/s320/P1010071.JPG" /><div align="justify"></div><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 240px; DISPLAY: block; HEIGHT: 320px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5625645557872095138" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiiBqId2v4Kx3SUbHkbNdoGLj-EBzll4uxxZEwhs8z4cSYjuKLaqOlKDBIx4Jf1XH1zyZNtULFest5OaQDILHcyUub0ekzH2AgIQ-c8Ne2YR5yqnhzFkv-mhOvi6fFxoP-PMt8Pdg/s320/P1010059.JPG" /><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 240px; DISPLAY: block; HEIGHT: 320px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5625645542253985922" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiXsNIeYLwWJGXcvq6avJgKYpKbOfCD33O-fNy7OQyVnPdiWVaxeLDoz6BCzwWhFT6htTcLDMO854PTMFLRp11ABNLo6PIv6tOUNhlp2ZEmN5SjDURYWutsTLzd4-IDqu5gP9BNaQ/s320/P1010058.JPG" /><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; DISPLAY: block; HEIGHT: 240px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5625644509708298866" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiHYomdIeldLM4Ug4Q4VWMn7zMzsr-ZT5aoNebYSnLDWaJ9Ua_tNKRQZhaAyWn7L7XUX47eaWXOrFaTYDLRsAmN8PZgvIrGrp2qqVe5KUFWOxUtItPA46xZBLuM5Uax_f2SfHR9dA/s320/P1010056.JPG" /><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 240px; DISPLAY: block; HEIGHT: 320px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5625645577309818482" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhfegnkUBTZTq5H4S_GS_y_vNllQQT7xxPt1N5TgsOXtAaWSdvY-kU383Itgb97aZc8pQlZELbkm2bFUDDEAEhoSiXruFKlg75plKJCenJxOoqeXqGmJBYCUK11H5DD0PHcIImRHw/s320/P1010077.JPG" /><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 240px; DISPLAY: block; HEIGHT: 320px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5625645572211746738" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgMwCTYNDuATES9t0OcC1CIL7Joxpgo1EJAhSGlPobmtJDca6JiL1TQrz08v5QDYjY5eAw-YXHR3y5qvc2mYuONGAZMTGUthL3U4_UQWyBInqXv2ySXbhujOgVYyoEEC9hmq4G-kQ/s320/P1010063.JPG" /><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; DISPLAY: block; HEIGHT: 240px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5625649148960034210" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhfrkx4vUQsq0agYXyfh-wSET7addQglnGiFm0_wDKgs9USSPxsnCw-ZzW_A5GtcRjUA4DyQ2yQOmXvrVoCwc6Zl57gCXR-0RLA94gawo6CgJ6pSc9xwLW1Ew8-C4dOrvCthyphenhyphen7x9w/s320/P1010087.JPG" /><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 240px; DISPLAY: block; HEIGHT: 320px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5625649139502129394" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhuzEzORlBehFuTe86wiiJSSlvZFuAO7igHFy0Ia6DwHWPizhZWlG1Fvys1TPRba7RBWu50qMv-RnRewdAKCIAkPCjNv-1RCtCC0GYwUKdLIEbCpaN_JcJFxp0SJRPByqwgyj3r0A/s320/P1010083.JPG" /><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 240px; DISPLAY: block; HEIGHT: 320px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5625649135665960930" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgJ1kYjQDZRVPOkMVOx97o38MEuK_OArTDAAcbZ2uWJk8cmCJNQpKamsPh0AR03GF9JvmE9-CY5jC7NgHuKZJV0SkogwsEd515ysP1M63H6y9H4MC5x_SQo9jycmQz5FT-SjD0cQA/s320/P1010082.JPG" /><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; DISPLAY: block; HEIGHT: 240px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5625649152379865058" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhUzcWAoaeaz5lZ7GXyJC8s0-9Wh_f6EIw6_AeOO3uUqaDsxNfbVVnVP_IO_w4bbpjXcMoY8bBQ47ZYCJU4IFPh8oL1tdDbklT97ny4Wo4-0DGI3szE_misvHVOJ-9mnwlLof_3PQ/s320/P1010085.JPG" /><br /><br /><br /><div align="justify">* Photos by Mendes Júnior.</div>Mendes Júniorhttp://www.blogger.com/profile/06083854217559604868noreply@blogger.com20tag:blogger.com,1999:blog-38570403.post-33180245479174262722011-05-30T14:41:00.008-03:002011-05-30T16:50:07.233-03:00Cinema<div align="justify"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhTBhnTlWn4A8InpDueXD0xRKCLHUFh-_tDGLYJUxyjX4PO3a_sP3ByLdYwjLBLK4CnVkAxmXM3gONTmRa1LgXZbDMPmRULvmSqRxBVQzmGGPAadsBHSqM3vWs240gMjhxXSS6gCg/s1600/Spider.jpg"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 189px; DISPLAY: block; HEIGHT: 267px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5612566826794991922" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhTBhnTlWn4A8InpDueXD0xRKCLHUFh-_tDGLYJUxyjX4PO3a_sP3ByLdYwjLBLK4CnVkAxmXM3gONTmRa1LgXZbDMPmRULvmSqRxBVQzmGGPAadsBHSqM3vWs240gMjhxXSS6gCg/s320/Spider.jpg" /></a><br /><br />Lendo o último livro do espanhol Enrique Vila-Matas publicado no Brasil, pela Cosac Naify, chamado <em>Dublinesca</em>, deparei-me já nas primeiras páginas com a citação do filme <em>Spider </em>(2002), do excelente diretor canadense David Cronenberg, que também tem em seu currículo <em>Crash</em> (1996), <em>eXistenZ</em> (1999), <em>A History of Violence</em> (<em>Marcas da Violência</em>) (2005), entre outros. Aliás, Vila-Matas faz mais do que uma simples citação: durante a passagem, o protagonista Samuel Riba é convidado por sua esposa, Celia, a assistir ao filme, e, durante sua exibição, há uma aparente tentativa de fazê-lo perceber ter características do personagem Spider, que vive solitário e incomunicável num mundo inóspito. Bem, é isto que nos mostra: "Volta a achar que sua mulher está tentando ver como ele reage diante da figura de Spider, para poder assim medir seu próprio grau de demência e burrice".<br /><br />Prontamente - por ainda não ter visto o filme - resolvi não prosseguir na leitura até que resolvesse esta a qual considerei uma falha, pois sempre fui presenteado com fortes emoções durante e após os filmes de Cronenberg. A falha, a bem da verdade, era enorme: <em>Spider</em> é espetacular, e não menos a atuação de Ralph Fiennes, no papel de Spider, e a fotografia de Peter Suschutzky.<br /><br />Logo na sequência inicial, acompanhada de uma música sublime e triste, vemos Spider descer de um trem com uma expressão de desconforto, balbuciando sons incoerentes, retirando de dentro da calça uma meia surrada com algo em seu interior. Após conferir um endereço, segue por ruas londrinas vazias, com a pequena mala em uma das mõas, recolhendo, durante o trajeto, objetos inúteis que encontra jogados, até chegar a East End, bairro em que passou sua infância. O endereço é de uma pensão que acolhe doentes mentais e só mais adiante sabemos que ele vinha de um hospital psiquiátrico.<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhUq1qP8cht4EU6Re4plLKcM4yS_JxxudcDAKIohel8o9djuBXFxSB5GRwahd-uBMiAqWVoEjMUU6WS38TWId0hd5SXVudsa_MyHCuiLcXL9tZJPwCCJRWGdCpcZzJMHBxoRYkAVA/s1600/untitled.bmp"><img style="MARGIN: 0px 10px 10px 0px; WIDTH: 200px; FLOAT: left; HEIGHT: 138px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5612592439144595314" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhUq1qP8cht4EU6Re4plLKcM4yS_JxxudcDAKIohel8o9djuBXFxSB5GRwahd-uBMiAqWVoEjMUU6WS38TWId0hd5SXVudsa_MyHCuiLcXL9tZJPwCCJRWGdCpcZzJMHBxoRYkAVA/s200/untitled.bmp" /></a>De longe é fácil perceber que Spider tem problemas mentais, mas aos poucos vamos nos dando conta dos motivos que o levaram a ser quem é, ou acreditamos nisto. A partir de sua chegada à pensão, vai recontruindo inevitavelmente sua infância, de acordo com o que consegue lembrar - os fios da teia. Faz uso constante de um caderninho no qual escreve, com letras miúdas, frases em alfabeto imaginário, ou como diz Samuel Riba: "São sinais primitivos, paus ou pauzinhos dobrados, tão incompletos que não chegam nem a ser paus ou pauzinhos e, claro, não conseguem chegar a fazer parte do alfabeto de nenhum hieróglifo", e completa com uma sensação: "Produzem um verdadeiro pânico". Mas nada preocupa mais Spider do que alguém encontrar sua caderneta, a qual esconde sob o tapete do quarto, pois temos a impressão de que é nela em que vai tecendo as ilusões dispersas em sua memória.<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiaX7oS3Ty5RJijRFAGo5JsXcEcVSl0ZEtbVOkbXQb-eYduee9DZcPJaRdxHffPRCBwZRQJxXnWh1g4b-S7o5oMIlDxwENbba7h_zwKXY36rI4Zyt5pqTmIkLjQjCwHDZR-CgviWg/s1600/Miranda.jpg"><img style="MARGIN: 0px 10px 10px 0px; WIDTH: 200px; FLOAT: left; HEIGHT: 140px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5612591483619113042" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiaX7oS3Ty5RJijRFAGo5JsXcEcVSl0ZEtbVOkbXQb-eYduee9DZcPJaRdxHffPRCBwZRQJxXnWh1g4b-S7o5oMIlDxwENbba7h_zwKXY36rI4Zyt5pqTmIkLjQjCwHDZR-CgviWg/s200/Miranda.jpg" /></a>O grande problema se baseia na morte da mãe. Responsabiliza o pai, que teria agido de forma brutal e, por fim, passado a viver com uma prostituta. Quando o assinato ocorre, ele ainda é uma criança, mas a narrativa do filme é feita com Spider adulto, o mesmo que desce na estação vestindo quatro camisas, embora esteja em pleno verão, revisitando, como simples testemunha atordoada, os acontecimentos cruciais do início da vida, até a prostituta assumir o lugar de sua mãe em casa. Difícil de ser observado que a mãe de Spider (Sra. Cleg), a protituta (Yvonne) e a dona da pensão (Sra. Wilkinson) foram vividas pela mesma atriz: Miranda Richardson. Importante detalhe, pois não apenas Spider se mostra perturbado na pensão com a presença da Sra. Wilkinson, mas nós também, pela confusão que Spider faz com as imagens.<br /><br />O embate com as lembranças do pai assassino, vivido pelo irlandês Gabriel Byrne, aquele mesmo de <em>Stigmata </em>e<em> Os Suspeitos</em>, segue até o final, quando somos surpreendidos. A teia que Spider constrói não passa de um "emaranhado de cordas".<br /><br />Por fim, ainda em <em>Dublinesca</em>, lemos que muito vagamente Spider lembra o personagem de <em>Um homem que dorme</em>, do francês Georges Perec (1936-1982), o qual ainda não li. Possivelmente, outra grande falha.<br /><br /><br />* Imagens extraídas do site www.imdb.com</div>Mendes Júniorhttp://www.blogger.com/profile/06083854217559604868noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-38570403.post-41507478214394021432011-05-29T09:04:00.003-03:002011-05-29T09:58:15.617-03:00Música<div align="justify"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgELYbX6OD0Z2sgCt8hZBPjFBAT0pGOHddVFxa_ve6NxyzgxGcH65SFyql03GWaHlTJ1sfdqlBvUpCCcnm1uGzZ51CngM4dIbHUiuIyzeRQT2In8Mx6D55mFvuzRWh5wgLv17qVAA/s1600/Chet_Baker_-_The_Art_of_the_Ballad.jpg"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; DISPLAY: block; HEIGHT: 320px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5612108306492121122" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgELYbX6OD0Z2sgCt8hZBPjFBAT0pGOHddVFxa_ve6NxyzgxGcH65SFyql03GWaHlTJ1sfdqlBvUpCCcnm1uGzZ51CngM4dIbHUiuIyzeRQT2In8Mx6D55mFvuzRWh5wgLv17qVAA/s320/Chet_Baker_-_The_Art_of_the_Ballad.jpg" /></a><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhQMpUoFspxQwb8b1HMD1xwYcITu-KJfmLXMYzJUukIT_ucLxw927XHAbCs-NO-VTDA9FoC7IknoGD7lbJ2Jq8HV4Vir8UQ0Tx8m5FGSRFiiWsH6Dg1noUIsoN6MKwcyqozsbIrnQ/s1600/Chet_Baker_-_The_Art_of_the_Ballad.jpg"></a>Para um bom-dia-qualquer se faz necessário um som que se chame grande. Chet Baker pode ser traduzido assim: grande, enorme, gigante etc. Com a delicadeza que todo domingo requer, pois, de verdade, não se pode ofender tal dia da semana, sento-me ouvindo o disco da capa acima desde o comecinho da manhã. Trata-se de <em>the art of the ballad </em>(1998), composto por músicas gravadas em cidades diferentes (Nova York, Milão e Englewood Cliffs), para discos outros, como <em>Chet Baker in New York</em>, <em>Chet Baker in Milan</em>, <em>Chet</em> etc., entre os anos de 58 e 65, e remasterizado em 98 por Fantasy Studios, em Berkeley, Califórnia, por um sujeito chamado Kirk Felton.<br /><br />O título do disco diz tanto, que Paul de Barros, responsável pelo texto que integra o encarte, escreve logo nas primeiras linhas: "Chet Baker believed in ballads. He believed in the idealized world of romance and beauty - and escape - that American love songs can conjure". Não só por isto, mas pela seleção musical, que vai desde <em>Polka Dots and Moonbeams</em>, <em>Autumn in New York</em>, <em>Alone Together</em>, <em>I Should Care</em> e <em>I'm Old Fashioned</em>, apenas para citar algumas, pois são treze deliciosas no total a serem consumidas.<br /><br />Bem, parece que é isto, mas não, pois há um pouco de excelência musical em cada faixa, referindo-me aos músicos. Bill Evans, Paul Chambers, George Coleman, Roy Brooks, Philly Joe Jones, Herbie Mann, Pepper Adams, Connie Kay, Kirk Lightsey etc. são companheiros de Chet neste álbum. E, sem dúvida, dá para sentir a diferença de suas presenças. Há ainda a voz marcada e inconfundível de Chet nas duas últimas faixas do disco: na já citada <em>I'm Old Fashioned</em> e <em>My Heart Stood Still</em>.<br /><br />Claro que <em>the art of the ballad</em> seria cultuado para uma noite romântica, servindo-se de um par agradável, cedendo aos prazeres escondidos no vinho e nos queijos, mas minha gata Amora - que se encontra agora esparramada no tapete musgo da sala ao lado do som - e eu entendemos que não há uma hora específica para Chet Baker, mas todas as vinte e quatro, desde que acreditemos também no amor. <br /><br /><br /></div>Mendes Júniorhttp://www.blogger.com/profile/06083854217559604868noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38570403.post-65046505995428754432011-05-20T15:06:00.005-03:002011-05-20T15:16:16.796-03:00Cinema<div align="justify"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiSBd8iHAK2fHT5dkxMW7z6Z9NcuuoCnSs4DcWp1KgMMj52bq9TgTXNJEDOURGlfy_Zo-_G-uxY8-iyaloH8xHszJa0dNOFA8MessiYP9y3N8E5WniOOm5GDUC6qC1aheUSbPfUDA/s1600/1278179808_cartaz_thumb.jpg"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 130px; DISPLAY: block; HEIGHT: 185px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5608861592121608258" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiSBd8iHAK2fHT5dkxMW7z6Z9NcuuoCnSs4DcWp1KgMMj52bq9TgTXNJEDOURGlfy_Zo-_G-uxY8-iyaloH8xHszJa0dNOFA8MessiYP9y3N8E5WniOOm5GDUC6qC1aheUSbPfUDA/s400/1278179808_cartaz_thumb.jpg" /></a><br />Muito sensível, charmoso e nostálgico o filme <em>O Pequeno Nicolau</em> (<em>Le Petit Nicolas</em>), 2009, do diretor francês Laurent Tirard, levando-se em consideração ser estabelecido como uma comédia. De fato, não deixa de sê-lo, entretanto, com contornos simbólicos, mostra uma face ingênua da relação familiar sob os olhos de crianças.<br /><br /><br /><div align="justify">A bem da verdade, <em>O Pequeno Nicolau</em> tem sua origem numa série de histórias em quadrinho francesa escrita por René Goscinny, cocriador de <em>Asterix</em>, e ilustrada por Jean-Jacques Sempé, que foi publicada entre 1956 e 1964.<br /><br /><br /><div align="justify">O enredo é simples. A história se passa na França da década de 50. Enquanto Nicolau, filho único, é mimado pelos pais, mantém uma vida de certa maneira divertida e normal com os amigos de colégio. Tudo parece transcorrer sem incidentes, até Nicolau, sorrateiro, escutar uma conversa de seus pais e acreditar que em breve terá um irmão. A partir desta descoberta, sente-se ameaçado e parte numa campanha, com táticas inocentes e ajuda de desastrados amigos, para se manter criança, permanecer dono absoluto da atenção dos pais e, ainda, mostrar ser indispensável a estes. Porém, ao ouvir de um amigo, que vive a mesma situação, o lado bom de ter um irmão, seu pensamento muda, mas é surpreendido com outra descoberta.<br /><br /><br /><div align="justify">Tirard teve o cuidado de escolher para seu filme crianças que nunca haviam atuado, inclusive o protagonista Nicolau, vivido por Maxime Godart. Um personagem que chama atenção pela graça simpática é Clotário (Victor Charles), o amigo tapado.<br /><br /><br /><div align="justify">Por fim, eis o elenco: Maxime Godart, Valérie Lemercier, Kad Merad, Sandrine Kiberlain, François-Xavier Demaison, Michel Duchaussov, Daniel Prévost, Vincent Claude, Charles Vaillant, Victor Charles, Benjamin Averty e Germain Petit Damico. </div></div></div></div></div>Mendes Júniorhttp://www.blogger.com/profile/06083854217559604868noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-38570403.post-6442801935074207692011-05-01T10:29:00.005-03:002011-05-01T11:22:36.220-03:00Pesar<div align="justify"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhOTyKvO9vwldFhzURZStB3gltlzkVoAbVmqesU4XqFJb8tLZ3IJb-d9poD0B02drteX-elxUam31pnMH91frh9UgdP-59GvvAArKWA3s0eW5Jq0RNNLhH-leEhpLXcLz-wvHFwuA/s1600/ernesto_sabato.jpg"><img style="MARGIN: 0px 10px 10px 0px; WIDTH: 294px; FLOAT: left; HEIGHT: 400px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5601739584856386546" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhOTyKvO9vwldFhzURZStB3gltlzkVoAbVmqesU4XqFJb8tLZ3IJb-d9poD0B02drteX-elxUam31pnMH91frh9UgdP-59GvvAArKWA3s0eW5Jq0RNNLhH-leEhpLXcLz-wvHFwuA/s400/ernesto_sabato.jpg" /></a> <span style="color:#000000;">O escritor argentino Ernesto Sabato faleceu neste sábado, aos 99 anos de idade, no arredores de Buenos Aires. Considerado um ícone da literatura argentina, nasceu na cidade de Rojas em 24 de junho de 1911. O autor de <em>O escritor e seus fantasmas</em>, <em>Sobre hérois e tumbas</em>, livro que lhe deu reconhecimento internacional, e <em>O túnel</em>, segundo o jornal Clarín, foi um dos nomes emblemáticos no retorno da democracia argentina à frente da Conadep (Comisión Nacional de Desaparición de Personas), grupo que redigiu o relatório "Nunca Mais", que relata os horrores da última ditadura militar argentina (1976-1983).<br /><br /><p align="justify"><span style="color:#000000;">"Nunca me he considerado un escritor profesional, de los que publican una novela al año. Por el contrario, a menudo, en la tarde quemaba lo que había escrito a la mañana", declarou em certa ocasião a respeito de seu trabalho. Sabato, ao final de sua vida, se dizia "una especie de anarquista cristiano que sólo cree en la paz y en la justicia social".<br /><br />Ainda segundo o Clarín, era considerado um intelectual emblemático atormentado pelos problemas de seu tempo.<br /><br /><p align="justify"><span style="color:#000000;">Eis a relação completa de suas obras, a partir dos títulos originais:</span></p><strong>Romances</strong><br /><br />El túnel (1948)<br />Sobre héroes y tumbas (1961)<br />Abaddón el exterminador (1974)<br /><br /><strong>Ensaios</strong><br /><br />Uno y el universo (1945, junto a Ben Molar y Julio de Caro)<br />Hombres y engranajes (1951)<br />Heterodoxia (1953)<br />El caso Sabato. Torturas y libertad de prensa. Carta abierta al general Aramburu (1956)<br />El otro rostro del peronismo (1956)<br />El escritor y sus fantasmas (1963)<br />Tango, discusión y clave (1963)<br />Romance de la muerte de Juan Lavalle. Cantar de Gesta (1966)<br />Significado de Pedro Henríquez Ureña (1967)<br />Aproximación a la literatura de nuestro tiempo: Robbe-Grillet, Borges, Sartre (1968)<br />La cultura en la encrucijada nacional (1973)<br />Diálogos con Jorge Luis Borges (1976)<br />Apologías y rechazos (1979)<br />Los libros y su misión en la liberación e integración de la América Latina (1979)<br />Entre la letra y la sangre (1988)<br />Antes del Fin (1998)<br />La Resistencia (2000)<br />España en los diarios de mi vejez (2004)</span></div><br /><br /><br /><div align="justify"><span style="color:#000000;">* Foto extraída do blog Monte de Leituras;</span></div><br /><br /><div align="justify"><span style="color:#000000;">** Informações extraídas de </span><a href="http://www.clarin.com/"><span style="color:#000000;">http://www.clarin.com/</span></a><span style="color:#000000;">. </span></div><br /></span>Mendes Júniorhttp://www.blogger.com/profile/06083854217559604868noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-38570403.post-39709670033060005412011-04-26T10:10:00.015-03:002011-04-26T11:17:59.280-03:00Guedali galopando rumo ao seio de Abraão<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhrdXZOwR-H6fVZFDm-OL-fSFIOCq-NmXGFW-zp2A2szsZ1Lx6rCbo5WqZr8W4I5Unx5kBe40HpKhgQKvaXjN0URbhvRnonOhjEH82xlurmchcaobhETsHkoA0XHU54A91pa_6OnA/s1600/Jardim+das+Del%25C3%25ADcias+2.bmp"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; DISPLAY: block; HEIGHT: 212px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5599888351356361954" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhrdXZOwR-H6fVZFDm-OL-fSFIOCq-NmXGFW-zp2A2szsZ1Lx6rCbo5WqZr8W4I5Unx5kBe40HpKhgQKvaXjN0URbhvRnonOhjEH82xlurmchcaobhETsHkoA0XHU54A91pa_6OnA/s400/Jardim+das+Del%25C3%25ADcias+2.bmp" /></a><br /><br /><br /><div align="justify">Moacyr Scliar (1937-2011) faleceu recentemente, mas não é por este triste motivo que abordo <em>O Centauro no Jardim</em> (1980), mas por se tratar de uma obra interessante que não descuida de interpretações. A coincidência, no tocante ao pesar da notícia, é que estava justamente imerso em sua leitura quando descobri que o imortal era mortal. A bem da verdade, a dilatada obra do porto-alegrense, que caminha pelo conto, crônica, romance, literatura infantil e ensaio, que soma mais de oitenta livros, é que podemos classificar de imorredoura. E há que se questionar: como alguém conseguiu escrever tanto, mesmo mantendo a profissão de médico? Sem dúvida, é admirável.<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhFzWYlzCDProBNZRs-Vd01eDPMfIHGV4AdTZyZYKohZPdshSsQ2nPaSCLHBwML3cpw1YuUZykhGW9JgdUrEOsLPeNui_e17b0lbNRTIGtGyt9B6pHWhD4s_YekN4UVAGnhpozyfw/s1600/O+centauro+no+jardim.bmp"><img style="MARGIN: 0px 10px 10px 0px; WIDTH: 144px; FLOAT: left; HEIGHT: 144px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5599883106367116386" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhFzWYlzCDProBNZRs-Vd01eDPMfIHGV4AdTZyZYKohZPdshSsQ2nPaSCLHBwML3cpw1YuUZykhGW9JgdUrEOsLPeNui_e17b0lbNRTIGtGyt9B6pHWhD4s_YekN4UVAGnhpozyfw/s200/O+centauro+no+jardim.bmp" /></a>Moacyr Scliar guiou parte de sua obra pelo fantástico e pelo enfoque na tradição judaico-cristã, e <em>O Centauro no Jardim</em> segue ambas temáticas, acrescentando aqui a mitologia. O livro chegou a ser incluído na lista dos cem melhores livros relacionados à história dos judeus dos últimos dois séculos, elaborada pelo National Yiddish Book Center, dos Estados Unidos, em 2002. Também se destaca da “prateleira” de Scliar por ter sido um dos mais traduzidos: inglês, francês, espanhol, alemão, sueco, hebraico e russo –, além de adaptado para o teatro na Alemanha.<br /><br /><em>O Centauro no Jardim</em> é construído a partir de períodos definidos em capítulos, através de datas e lugares, mas com componentes narrativos que remontam ao passado. Inicia-se com um Guedali, o centauro-narrador, tranquilo e aparentemente feliz, comemorando seus trinta e oito anos, ao lado de sua mulher e de seus amigos, num restaurante tunisiano, chamado <em>Jardim das Delícias</em>, o qual passa a reconstruir os acontecimentos de sua vida. Observamos que o nome do tal restaurante é o mesmo de um famoso tríptico aberto do holandês Hieronymus Bosch (1450-1516), El Bosco, que atualmente repousa no <em>Museo Nacional del Prado</em>, em Madri. O tríptico (1504) retrata o pecado entre o céu e o inferno. Enquanto na lateral esquerda temos o paraíso, representando o último dia da criação, com Eva e Adão, na direita está o inferno, no qual o homem é condenado por seu pecado. Já no centro vemos o jardim e os prazeres da vida, em que a humanidade se entrega aos prazeres mundanos, com forte carga erótica. Uma sequência simbólica.<br /><br />O calvário de Guedali tem início numa pequena fazenda no interior do Rio Grande do Sul. Ele faz parte de uma família judia, advinda da Rússia, que, ajudada por um tal Barão Hirsch, fugiu dos <em>pogroms</em>. Guedali narra seu próprio nascimento como se misturado ao susto dos pais e irmãos, e tem consciência desde cedo de que é diferente: “As primeiras lembranças, naturalmente, não podem ser descritas em palavras convencionais”. O fato é que Guedali nasce um centauro e, portanto, provoca uma série de desafios para família Tartakovsky, desde no sentido de seguir os preceitos judaicos até o de escondê-lo a fim de preservar a dignidade de todos, afinal, dificilmente seria considerado natural um ser metade homem, metade cavalo.<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgY1KrF-8DUEUyTmccP29TeEj_Cg1IBMNuj7HbnnZL1xD3zjscyJ4UQaGPfm_q3O0jGMJpx92DhIeIOB0ah0p46FYLCBwsSZRVPnUSls9hJRWUYYRugq18YMFJSLP9O10sAKhdpcg/s1600/centaur_skeleton_new.jpg"><img style="MARGIN: 0px 10px 10px 0px; WIDTH: 193px; FLOAT: left; HEIGHT: 200px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5599886238971374146" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgY1KrF-8DUEUyTmccP29TeEj_Cg1IBMNuj7HbnnZL1xD3zjscyJ4UQaGPfm_q3O0jGMJpx92DhIeIOB0ah0p46FYLCBwsSZRVPnUSls9hJRWUYYRugq18YMFJSLP9O10sAKhdpcg/s200/centaur_skeleton_new.jpg" /></a>A questão conflituosa se trava quando Guedali descobre o prazer de cavalgar pelo campo, ao tempo que vai se apercebendo haver um mundo fora de seu esconderijo e das leituras, hábito que passa a cultivar enquanto trancafiado. Num descuido, durante um galope, é surpreendido por um vizinho e seus pais decidem se mudar para a cidade, fato que o torna ainda mais prisioneiro de seu corpo. Avista por lentes longíquas o amor – platônico, mas amor – e resolve que chegou a hora de abandonar a segurança de seus pares e enfrentar de uma vez por todos o mundo. Durante cavalgadas pelo desconhecido, conhece Tita, uma centaura. Apaixonam-se. Tomam, portanto, a decisão que iria mudar suas vidas: se transformar em seres normais após cirurgia realizada no Marrocos. A partir do sucesso deste empreendimento – chamamos assim – inicia-se uma batalha interna e individual entre os ex-centauros.<br /><br />Interessante o exercício de assumir o papel dos dois personagens para tentar imaginar como nos comportaríamos se modificados a ponto de nos tornarmos outros seres. É incômodo, acredito. A identidade estaria em jogo, assim como a natureza humana e seus componentes psicológicos e sociais. Estaríamos desfocados e deslocados? Por certo, mas consideremos a possibilidade de sermos vistos como iguais, sem características físicas aterradoras. Mas não é tão simples assim. O fato é que Guedali é tomado por uma crise de identidade – permita-nos usar este lugar-comum –, quer voltar a ser centauro, pois é o seu instinto e, de verdade, nunca deixou de ser um centauro – eis a verdade que nos quer passar –, quer galopar pelos campos rumo aos seios de Abraão. Abre-se, então, a discussão pelo respeito ao diferente e à originalidade, a angústia do homem enfiado na sociedade contemporânea e a condição judaica. É salutar ainda o contexto político no qual se insere parte da história.<br /><br />Mendes Júnior<br /><br />* Reprodução de O jardim das delícias extraída do <em>site</em> O fabuloso mundo da arte;<br /><br />** Reprodução de capa extraída do <em>site</em> da Companhia Das Letras;<br /><br />*** Imagem de centauro extraída de <a href="http://fantasyhorses.homestead.com/">http://fantasyhorses.homestead.com/<br /></div></a>Mendes Júniorhttp://www.blogger.com/profile/06083854217559604868noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-38570403.post-60483868700303293542011-04-15T16:04:00.008-03:002011-04-15T16:36:32.490-03:00Com a palavra, professor Benjamim Schianberg<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh330Yneo775s4meiACrM-5py0_CN0wxo3JQAe6bT-8tTlGuo2Yh2fdAQWkObWJe3qBhOCQOGFl0-u3vCeFtibqXrbptG-dR9lixkunrlzWaD_1zETa4pZn13dwVYJnm1WnTJDYxw/s1600/11927_g.jpg"></a> <br /><div><br /><div><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiPNLBV1g1QKg0MxqAb_nh5E7I1kvww9WGCkH5ZLSmahoFb6WtV8SmsGTi9m-qkBIbEGgoM1XFU9Nmur2f_QjuF8cttcgHWY8TH1bMkDdcBruC9Yz8BaiOapdxG9S-1g9j55DwWbQ/s1600/Bel+Pedrosa.jpg"></a><br /><div align="justify"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiE3WCXbaRCjlSDNw7igkkEn9F2qZeXft3WvmzCrVjEpP_Mk-RzPj_sAVkqCbQjFCuTOs7eA6B5yqhYKYCvauLVIDwC0g_Ed2k3Uiz1NWg_WGT1MI7Rlf3Er9oMW2mtOS8DQClH6w/s1600/105+-+Eduardo+Segura.jpg"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; DISPLAY: block; HEIGHT: 209px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5595889153351306466" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiE3WCXbaRCjlSDNw7igkkEn9F2qZeXft3WvmzCrVjEpP_Mk-RzPj_sAVkqCbQjFCuTOs7eA6B5yqhYKYCvauLVIDwC0g_Ed2k3Uiz1NWg_WGT1MI7Rlf3Er9oMW2mtOS8DQClH6w/s320/105+-+Eduardo+Segura.jpg" /></a> <br /><div></div>Não se sabe ao certo em qual local e data nasceu Benjamim Schianberg, professor e autor do livro <em>O que vemos no mundo</em>, para o qual também não temos o ano da publicação nem a editora. Mas é certo que sua obra pode ser considerada como um manual filosófico do amor, um dicionário de expressões de cunho entusiasta para enamorados, uma fonte de pesquisa objetivando esquadrinhar frestas do sexo, sobretudo uma carta de auto-ajuda destinada aos que se aventuram a tentar ponderar o imponderável, sondar o insondável e compreender o incompreensível. O eminente professor cunhou frases de ciência pertinente: “A grande desgraça é que as lembranças não bastam para confortar os amantes (...)”; descreveu tipos da natureza humana masculina: <em>homens de sangue quente</em>; divide com seus leitores técnicas apuradas de comportamento: <em>vestir e despir o mundo</em>; rotulou-se como um estudioso ocupado com as “fezes da alma”; tipificou a STTL – Síndrome da Transferência Total de Libido; proclamou que poucos homens, para a insatisfação destes, são fiéis de verdade; e, por fim, desbancou a segurança dos amantes apaixonados que, quase sempre negligentes, acreditam-se discretos: não são invisíveis, estando apenas ofuscados pela luz que eles próprios emitem. Vetusto o amor, faz-se necessária a leitura do professor Schianberg, a fim de enxergar este sentimento em meio à claridade e à lassidão. </div><br /><div align="justify"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEikhjbqYGMaK0RlDgBopapTRsL7fEQipxSVW2GQNV_8gPl-s3xlvyEmrLsanqSrE3Aw0fRUQqrrHmBvpu6rtk30BMxBUBl_iqcDHiiP2nY42u8RbE4_hinj178UursJvCmAQ_gDLQ/s1600/Bel+Pedrosa.jpg"><img style="MARGIN: 0px 10px 10px 0px; WIDTH: 134px; FLOAT: left; HEIGHT: 200px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5595891600871359330" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEikhjbqYGMaK0RlDgBopapTRsL7fEQipxSVW2GQNV_8gPl-s3xlvyEmrLsanqSrE3Aw0fRUQqrrHmBvpu6rtk30BMxBUBl_iqcDHiiP2nY42u8RbE4_hinj178UursJvCmAQ_gDLQ/s200/Bel+Pedrosa.jpg" /></a>Seria válido tudo o que foi escrito se existisse de fato um professor Benjamim Schianberg e se o mesmo tivesse escrito <em>O que vemos no mundo</em>. A bem da verdade, uma criação para servir de pano de fundo na história de um outro personagem, chamado Cauby – sim, igual ao cantor –, no livro <em>Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios</em>, do paulistano Marçal Aquino. O curioso e hilário é que, mesmo Marçal tendo criado cuidadosamente um nome que sequer constava em sites de pesquisas e um livro nunca escrito, uma editora carioca pediu sua ajuda para localizar o tal escritor e publicar seu livro no Brasil. Infelizmente, não conseguiu. <em></em></div><br /><div align="justify"><em>Eu receberia as piores notícias</em>..., sem dúvida alguma, trata-se de um título intrigante e charmosamente grande. Olhando rapidamente para qualquer estante de livros, dificilmente encontraríamos algo parecido. O próprio Marçal, durante uma entrevista para um programa televisivo, disse que não acreditava que alguma editora fosse capaz de se interessar em publicá-lo, mas, para sua surpresa, Luiz Schwarcz – Companhia Das Letras – aceitou o desafio. </div><br /><div align="justify">A trama se passa basicamente numa pequena cidade do Pará, na época áurea para os garimpos e, portanto, desprotegida e nebulosa, envolvendo disputas de terra, emboscadas e mortes. O fotógrafo Cauby se apaixona perdidamente por uma mulher casada: Lavínia, uma ex-prostituta. A aproximação dos dois se dá pelo prazer da fotografia, embora ela encare o <em>hobby</em> como refúgio para um passado sofrido. Porém são as variações de comportamento de Lavínia que parecem sedimentar o interesse do amante, o qual encara como um grande desafio, a princípio, mas que aos poucos, contudo, se entrega feito paixão de adolescente. Por se tratar de uma diferença gritante, Cauby cria em sua cabeça duas Lavínias: Lavínia – a melancólica e comportada – e Shirley – “a que mijava de porta aberta”. As rosas, então, perdem a inocência quando o ciúme de Cauby começa a frequentar constantemente seu coração. Aliado aos desvios e sumiços da amante, Cauby intui ser correto desvendar a outra vida da amante, a que inclui seu marido, o pastor Ernani. </div><br /><div align="justify">Ao largo do amor clandestino, na terra hostil, há outras versões deste sentimento e com elas seus desvios. Altino, tratado pela alcunha de “careca”, mantém um amor platônico por uma colega de profissão, Marinês, que o condenou a viver o resto dos dias naquele cafundó; Chang, “o china da loja”, vem representando o amor doente, o desvio, a tara, em seu aspecto mais tenebroso: a pedofilia, que o leva a um destino severo; Dona Jane, a dona da pensão, faz parte da gente do interior que cede o coração aos galanteios de forasteiro qualquer e no fim é abandonada sem comiseração; e a do próprio pastor Ernani que procurou converter a impura Lavínia com ditados bíblicos e se quedou em “arranques silábicos” esquecendo a existência do demônio. </div><br /><div align="justify"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj9mGpyzq2ln1g4jyuxQMEQely3z2Ld75U4oEusCtSD6oKjHKOJDBT8Lfx73qiSupfMr43ul6h7zxED3CUP3Ha9GhFvGgeifCs6zhVxe38fb7jopujxP54GQNYJGgr4-QN7tqWYPg/s1600/eureceru1.jpg"><img style="MARGIN: 0px 10px 10px 0px; WIDTH: 200px; FLOAT: left; HEIGHT: 133px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5595893776122281586" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj9mGpyzq2ln1g4jyuxQMEQely3z2Ld75U4oEusCtSD6oKjHKOJDBT8Lfx73qiSupfMr43ul6h7zxED3CUP3Ha9GhFvGgeifCs6zhVxe38fb7jopujxP54GQNYJGgr4-QN7tqWYPg/s200/eureceru1.jpg" /></a>Marçal disse em certa ocasião que seus livros não deveriam ser cunhados de policiais, haja vista que são romances ambientados naquilo que vê nas ruas, nas pessoas e nos movimentos do centro da cidade, nos diálogos e atos de gente comum, não sendo intencional que a história descambe para elementos funestos ou queira se encaixar numa determinada classificação literária. A tragédia em <em>Eu receberia as piores notícias</em>... torna seu desfecho exalando um cheiro podre – um bafejo de vômito – e de céu inube, como se tivesse o amor sido enganado pela brutalidade e loucura. Obliterado o destino comum, encontramos o silêncio como a mais ensurdecedora forma de nos alertar das últimas consequências do homem. Mas o trágico já se encontrava como a pedra fundamental do destino de Cauby desde o princípio – o amor é terreno sem limite: “(...) E, embora a mulher não apareça, sei que é por causa dela que estão me matando. E tenho tempo de saber que não me deixa feliz o desfecho da nossa história. Terá valido a pena”. </div><br /><div align="justify"></div><br /><div align="justify">Mendes Júnior</div><br /><div align="justify">* 105, photo by Eduardo Segura;</div><br /><div align="justify">** Marçal Aquino, photo by Bel Pedrosa;</div><br /><div align="justify">*** Foto de capa extraída do blog Inutilidade Útil. </div></div></div>Mendes Júniorhttp://www.blogger.com/profile/06083854217559604868noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-38570403.post-20144632267665115642011-01-17T16:40:00.010-03:002011-03-15T16:04:25.848-03:00Ausente<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgaa_P5ATI9HnqQT2BU8DpnzC2Db1Cajm7FSmI-SkhWQNzmgn7BwheKn5xwqZ3co_iRGVkSJhYmKY7zCtOhlR5C2xEqMT7PR2KCZvfmnLfMnUzc0YSKNrlpw1bYZnU33nTGwnTYMg/s1600/P8070031.JPG"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; DISPLAY: block; HEIGHT: 240px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5563246464532184690" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgaa_P5ATI9HnqQT2BU8DpnzC2Db1Cajm7FSmI-SkhWQNzmgn7BwheKn5xwqZ3co_iRGVkSJhYmKY7zCtOhlR5C2xEqMT7PR2KCZvfmnLfMnUzc0YSKNrlpw1bYZnU33nTGwnTYMg/s320/P8070031.JPG" /></a><br /><div align="justify">Deveria escrever mais, muito mais, mas tenho andado ausente, descobri agora. Ou se trata apenas de um estado acolhedor de ausência, que me justifique desaparecer por tanto tempo e para tão distante. Após relutar uma batalha e meia, abri um envelope branco endereçado a mim, o qual acabara de deslizar feito lâmina pela soleira. Uma carta de mim para mim. Sentei, após alguns passos desequilibrados, quase em cima da Amora, minha companheira felina, na velha poltrona de guerra. Estranhei demasiadamente, pois sequer lembro da última missiva que rabisquei. Para uma namorada? Foi isto! Acendi um cigarro, depois outro e outro. Veio abraçada numa foto: a tal que reproduzo acima. Lugar do carimbo postal: Viena. O que diabos fui fazer em Viena? Nem passaporte tenho. Bem, acho que não tenho, já nem sei. Inglês não falo. Alemão? Piorou! Arranho o espanhol. Mas a letra era minha, isto sabia. Uma loucura assim só acontece comigo mesmo! Ainda tive o atrevimento de dizer que estou em uma das mesas do café, com a mão cobrindo o rosto, bem ao lado da vidraça, debaixo do reflexo do relógio, na terceira janela... Já sei! Já sei! Já sei! Para! Para, infeliz! Jamais estive em Viena nem em qualquer outro país da Europa! A viagem mais longa que fiz foi para Juazeiro do Norte, a fim de pagar uma promessa deixada de herança por meu pai. Alguém me disse certa vez que beber tanto chá preto não era recomendável à cabeça. Vai ver chegou a conta, mas não gostaria de pagar agora. Não, chegou foi uma carta que escrevi para mim. Inimaginável!<br /><br />"Mário, Surpresa, hein! Bebo um vinho nesta noite chuvosa em sua homenagem. A música é de rachar o ouvido. Estou escrevendo aquela história que arquitetamos, mas que você abandonou alegando melancolia. Mando notícias. Abraços afetuosos, Mário. P.S. Envio-lhe uma fotografia para que tente sentir o perfume da noite."<br /></div><div align="justify">* Escrito em janeiro de 2011;<br />** <em>Cafe Museum Viena</em>, by Mendes Júnior.</div>Mendes Júniorhttp://www.blogger.com/profile/06083854217559604868noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38570403.post-35456191677819218912009-10-24T17:50:00.003-03:002009-10-24T18:27:20.246-03:00Cadernos de viagem - Praga III<div align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgiPzMesF1bhBjEhLNsOvbozN5v57CxpXIP_1U4e4VhEkBIInT8cgpqU864ByQbF1jxAmUUKp4OqROYQs24t_7a2WV27zpkyMNRiK8QSoQ_gbU2wr5ZOIuXrb68AAI6Cva44iyakw/s1600-h/P1010206.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5396280044837251586" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 300px; CURSOR: hand; HEIGHT: 400px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgiPzMesF1bhBjEhLNsOvbozN5v57CxpXIP_1U4e4VhEkBIInT8cgpqU864ByQbF1jxAmUUKp4OqROYQs24t_7a2WV27zpkyMNRiK8QSoQ_gbU2wr5ZOIuXrb68AAI6Cva44iyakw/s400/P1010206.JPG" border="0" /></a> (Foto: Mendes Júnior)</div><div align="center"><br /></div><div align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjFGLFYyIJljyEIViqUz7NJrUXc_jZjAlg73aH4oz1cHLkISZKRs19xdYmF8cKsr7svPL03cWDSoWFqHDKaE_u8RiE6hypdNR4woQUMR-Y1H9IBt8X8BBKgaU4OPo0G8qH_Q13u0w/s1600-h/P1010208.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5396280049868612930" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 300px; CURSOR: hand; HEIGHT: 400px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjFGLFYyIJljyEIViqUz7NJrUXc_jZjAlg73aH4oz1cHLkISZKRs19xdYmF8cKsr7svPL03cWDSoWFqHDKaE_u8RiE6hypdNR4woQUMR-Y1H9IBt8X8BBKgaU4OPo0G8qH_Q13u0w/s400/P1010208.JPG" border="0" /></a> (Foto: Mendes Júnior)<br /><div align="center"></div><div align="center"><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiFhuf4qPSzFzJZdhUeY_QTxtoH2VJ1EWjOWykagOefVPtG9uXFQYqy2-_hEZ2p1b8uGodcJ0snoIok3YgK2hAH4bDKfi4n9elxt3eh8wZ3tpKt2AdmxotK19qUmu9jVU4WNn-R8w/s1600-h/P1010130.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5396277173280735138" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 300px; CURSOR: hand; HEIGHT: 400px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiFhuf4qPSzFzJZdhUeY_QTxtoH2VJ1EWjOWykagOefVPtG9uXFQYqy2-_hEZ2p1b8uGodcJ0snoIok3YgK2hAH4bDKfi4n9elxt3eh8wZ3tpKt2AdmxotK19qUmu9jVU4WNn-R8w/s400/P1010130.JPG" border="0" /></a>(Foto: Tarcisio Linhares)<br /><br /><div><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjTP-16paRJooxUscXP4S4Fal5UiHAySbGzUF04L3pAdoRhDxLSut2vsh0qGD1lMAUZvsfaeBmIvqtunUPWu-WxiLEnESeCH7v4V2eKIHFvridjDcOSTMBkpU5GAV9G_wNAL5yvxQ/s1600-h/P1010237.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5396277162948683410" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 300px; CURSOR: hand; HEIGHT: 400px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjTP-16paRJooxUscXP4S4Fal5UiHAySbGzUF04L3pAdoRhDxLSut2vsh0qGD1lMAUZvsfaeBmIvqtunUPWu-WxiLEnESeCH7v4V2eKIHFvridjDcOSTMBkpU5GAV9G_wNAL5yvxQ/s400/P1010237.JPG" border="0" /></a> (Foto: Tiago Pontes) </div><div><br /><div><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjT1DtYwnNNr5W6iiQhKVWmIS60hY6CI69D8nT-Jx_PNkFRxHRV95BdCifNpvmD6q-ksu87sf38rfwp_zwhgRg-YZL0UIsZupCAORv1AxfvYFMAgUT332hS5YHUR8J1AzT0sTSg6w/s1600-h/P1010243.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5396277159786628210" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; HEIGHT: 300px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjT1DtYwnNNr5W6iiQhKVWmIS60hY6CI69D8nT-Jx_PNkFRxHRV95BdCifNpvmD6q-ksu87sf38rfwp_zwhgRg-YZL0UIsZupCAORv1AxfvYFMAgUT332hS5YHUR8J1AzT0sTSg6w/s400/P1010243.JPG" border="0" /></a> (Foto: Mendes Júnior)<br /><br /><div><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhWVhea21ZkMGKrLnzofFs-iWidDLxuhptR1t2Qn1URkavP3U9JDWCp6pHMyitKJk5BnfsLtzfVjpNoS1tcRlKOqP5WHzxVWKyxNWViVOTtMc2Ipm3YUB8zu0fyEDUrtLwpcLLjaA/s1600-h/P1010273.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5396274275630894738" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 300px; CURSOR: hand; HEIGHT: 400px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhWVhea21ZkMGKrLnzofFs-iWidDLxuhptR1t2Qn1URkavP3U9JDWCp6pHMyitKJk5BnfsLtzfVjpNoS1tcRlKOqP5WHzxVWKyxNWViVOTtMc2Ipm3YUB8zu0fyEDUrtLwpcLLjaA/s400/P1010273.JPG" border="0" /></a>(Foto: Fábio Arruda)<br /><br /><div><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh7grx8CEko8MwbzIhZ-T-HoJSQVmEu_pouuPEnmTmQ-JJjNGd5MECBvcsnwwV8kgnpdNjlfOI6ixLXwsdYkj-YICMyL6aysA0m2KR73v5jTHRLiNL5wOjhck8qJzwHXkKFBSt2CQ/s1600-h/P1010235.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5396274243124857058" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 300px; CURSOR: hand; HEIGHT: 400px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh7grx8CEko8MwbzIhZ-T-HoJSQVmEu_pouuPEnmTmQ-JJjNGd5MECBvcsnwwV8kgnpdNjlfOI6ixLXwsdYkj-YICMyL6aysA0m2KR73v5jTHRLiNL5wOjhck8qJzwHXkKFBSt2CQ/s400/P1010235.JPG" border="0" /></a> (Foto: Mendes Júnior)<br /><br /><div><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh3GD941_NydbbUw5L-EFqxYlDcImNbJDAiwYQvciHCq2HXhd4GRBIum8W4Erk-9WA_aQvAe3cK2I4QyMVEgDP0ozhmiV16qt7TRCZdnmlG3Z9uKCI27PB5Xcec4e5DXtzg-D67aw/s1600-h/P1010228.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5396274234592108386" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 300px; CURSOR: hand; HEIGHT: 400px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh3GD941_NydbbUw5L-EFqxYlDcImNbJDAiwYQvciHCq2HXhd4GRBIum8W4Erk-9WA_aQvAe3cK2I4QyMVEgDP0ozhmiV16qt7TRCZdnmlG3Z9uKCI27PB5Xcec4e5DXtzg-D67aw/s400/P1010228.JPG" border="0" /></a> (Foto: Mendes Júnior)<br /><br /><div><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhmm2ReayGWBJ2Ltbcr7kzh8mDlV3fF-PdefmJbFAlGhmcxilPRtJdimVZAh3ba8qiJWOBp7IYbHpekZPT7YY1Ogu_prSfI2qvSs2-BidJC53p3mI9mPGkYeECXUkQVog-Chp2E_A/s1600-h/P1010271.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5396274269507596034" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 300px; CURSOR: hand; HEIGHT: 400px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhmm2ReayGWBJ2Ltbcr7kzh8mDlV3fF-PdefmJbFAlGhmcxilPRtJdimVZAh3ba8qiJWOBp7IYbHpekZPT7YY1Ogu_prSfI2qvSs2-BidJC53p3mI9mPGkYeECXUkQVog-Chp2E_A/s400/P1010271.JPG" border="0" /></a>(Foto: Mendes Júnior)<br /><br /><div><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgfxQOfJ5Yevp-DqCHOobdRIDQmt7vSOKrJLwSNZldDMIsGYSUbcKAqCyZ48JkipBwSxylFCitDDb7t-3VTBoxJnXqHvnkSKdDOGmlNKQe_e_hIpKOYHSijfLOzMTAk1pwB93b5HQ/s1600-h/P1010270.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5396274249536675810" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 300px; CURSOR: hand; HEIGHT: 400px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgfxQOfJ5Yevp-DqCHOobdRIDQmt7vSOKrJLwSNZldDMIsGYSUbcKAqCyZ48JkipBwSxylFCitDDb7t-3VTBoxJnXqHvnkSKdDOGmlNKQe_e_hIpKOYHSijfLOzMTAk1pwB93b5HQ/s400/P1010270.JPG" border="0" /></a> <div>(Foto: Mendes Júnior)</div></div></div></div></div></div></div></div><br /></div></div>Mendes Júniorhttp://www.blogger.com/profile/06083854217559604868noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-38570403.post-75115839825009599742009-10-23T07:02:00.007-03:002009-10-23T07:42:57.823-03:00Cadernos de viagem - Praga II<div align="center"> </div><div align="center"><div align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgCzu4_922l8BYuaeJMuCJV2mmYNSUe9yhhCkVoxmWeolB7v1rsBwJ9LPJFgqjwBHZcF6lDgLqW7J2g-Nj1U6EuUPawy18xBg7wCmAKQRFkV4qfrYSRGShdhcw5v3VRCqP-Bb4cYA/s1600-h/P1010101.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5395740734547007602" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; HEIGHT: 300px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgCzu4_922l8BYuaeJMuCJV2mmYNSUe9yhhCkVoxmWeolB7v1rsBwJ9LPJFgqjwBHZcF6lDgLqW7J2g-Nj1U6EuUPawy18xBg7wCmAKQRFkV4qfrYSRGShdhcw5v3VRCqP-Bb4cYA/s400/P1010101.JPG" border="0" /></a>(Foto: Mendes Júnior) </div><div align="center"><div align="center"></div><div align="center"><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEit6wFFYe8f3b3gl7W2hWRi58tYK8k-amnaemRdKBE909mZowhmk3iy3Ci-yUhJTiK8hHlvX5h6WmcU9Zzt0bqv_TOErNvr8Ps2-Wz7Q4cq2GE6_8F5Os06NMdn0Xy8cKNUd3ELXA/s1600-h/P1010173.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5395738115252538034" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; HEIGHT: 300px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEit6wFFYe8f3b3gl7W2hWRi58tYK8k-amnaemRdKBE909mZowhmk3iy3Ci-yUhJTiK8hHlvX5h6WmcU9Zzt0bqv_TOErNvr8Ps2-Wz7Q4cq2GE6_8F5Os06NMdn0Xy8cKNUd3ELXA/s400/P1010173.JPG" border="0" /></a> (Foto: Mendes Júnior)<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjvSsb7zOWVTENMXKll8jRZm6MeT7KTIIZhO5eZdAsgLqthgUIhh7ChB7Hw7I4wFayAkwBaL97wVWGKIdgJ6-a3cEdZgHjVHwvhzxV3XpOkmFQkV1iBIZ54o4du3MJp3ie4cCiomw/s1600-h/P1010167a.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5395738113558105202" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; HEIGHT: 300px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjvSsb7zOWVTENMXKll8jRZm6MeT7KTIIZhO5eZdAsgLqthgUIhh7ChB7Hw7I4wFayAkwBaL97wVWGKIdgJ6-a3cEdZgHjVHwvhzxV3XpOkmFQkV1iBIZ54o4du3MJp3ie4cCiomw/s400/P1010167a.jpg" border="0" /></a>(Foto: Aleandro Linhares)<br /><br /><div><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEglGggSi-QmQMZSmmau_VGpY7GRzHdxhgJ3XoIMSn0DjYVouej8dYvXJJsBVZX8yII69Ff6v4Cy8PNSTh0OlcRYsALyjQD3gFDfrZEuE4tHGVnELLKNhVC46blBjb-u7RtFWCZRMA/s1600-h/P1010242.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5395738129826526082" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; HEIGHT: 300px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEglGggSi-QmQMZSmmau_VGpY7GRzHdxhgJ3XoIMSn0DjYVouej8dYvXJJsBVZX8yII69Ff6v4Cy8PNSTh0OlcRYsALyjQD3gFDfrZEuE4tHGVnELLKNhVC46blBjb-u7RtFWCZRMA/s400/P1010242.JPG" border="0" /></a>(Foto: Mendes Júnior)<br /><br /><div><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEipOoPbWrxIF_fQfDYwZlZdgCOXp-vV8n2QQONnLeFx-GcAw27ZdtuQXc-kSnsIGejI9ivpDGv-6hnSh8K5M2iXZzMsBKU0_uqR4extGa869VzAUrzPluy_F1SE1dWzG0Ujvg65Gg/s1600-h/P1010156.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5395736080387562290" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 300px; CURSOR: hand; HEIGHT: 400px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEipOoPbWrxIF_fQfDYwZlZdgCOXp-vV8n2QQONnLeFx-GcAw27ZdtuQXc-kSnsIGejI9ivpDGv-6hnSh8K5M2iXZzMsBKU0_uqR4extGa869VzAUrzPluy_F1SE1dWzG0Ujvg65Gg/s400/P1010156.JPG" border="0" /></a>(Foto: Mendes Júnior)<br /><br /><div><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj0Mjwurx0lmi0bZmFmpKwon6OTQDNvEegqclF6jqMk6xP8NkNLNGUaHBsVuCw3Zqkkhgy-htoCwxI_sGzX1EH3VbBqXN4e4Y4l8H2p30iJL9pXAwVdupvloOirxDJOBK7_YMT76w/s1600-h/P1010107.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5395736066636335618" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 300px; CURSOR: hand; HEIGHT: 400px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj0Mjwurx0lmi0bZmFmpKwon6OTQDNvEegqclF6jqMk6xP8NkNLNGUaHBsVuCw3Zqkkhgy-htoCwxI_sGzX1EH3VbBqXN4e4Y4l8H2p30iJL9pXAwVdupvloOirxDJOBK7_YMT76w/s400/P1010107.JPG" border="0" /></a>(Foto: Mendes Júnior)</div><div><br /><div><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi0OkrGpjtLx1Y7C1e9W0f8vh3CHrW7XEckFq4CXuCbRaWw5Hglsxwj0URgtY45pMa2PjVjF3hiPpUM2nGnLbwFyW33UbW5gVgPNcs8Olb7XnBZOudvLl6rI1n6R5W07ZEeM9QiXg/s1600-h/P1010165.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5395736089524049106" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; HEIGHT: 300px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi0OkrGpjtLx1Y7C1e9W0f8vh3CHrW7XEckFq4CXuCbRaWw5Hglsxwj0URgtY45pMa2PjVjF3hiPpUM2nGnLbwFyW33UbW5gVgPNcs8Olb7XnBZOudvLl6rI1n6R5W07ZEeM9QiXg/s400/P1010165.JPG" border="0" /></a>(Foto: Mendes Júnior)<br /><br /><div><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiDHEa-N1kCcHmW3GzDBXhvYo14d4LXlvnqLo-N7r4ZEaJ926uA6iWBd17Zl63nXa-nFQmj5NBUNMQPrVkDtOrpCc1AazBohrcyIGtujJNi3IrCCyxy8fhadGtrIc11vLQvldkOPQ/s1600-h/P1010161.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5395736082547637842" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; HEIGHT: 300px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiDHEa-N1kCcHmW3GzDBXhvYo14d4LXlvnqLo-N7r4ZEaJ926uA6iWBd17Zl63nXa-nFQmj5NBUNMQPrVkDtOrpCc1AazBohrcyIGtujJNi3IrCCyxy8fhadGtrIc11vLQvldkOPQ/s400/P1010161.JPG" border="0" /></a>(Foto: Mendes Júnior)<br /><br /><div><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiIF1_HvLEkM_88IPdN_mGXT0QTpXkKtzz9Z3fSSEOK8QivNWQ_YJRX_XRs_K0VwU_z3a2HUz78ye1s5e7k8WOasuRYjNbGE55PP9esEgBAmnUwFHFGZqq0As1DgwmZCjEDtgQZpg/s1600-h/P1010110.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5395736075922247586" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; HEIGHT: 300px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiIF1_HvLEkM_88IPdN_mGXT0QTpXkKtzz9Z3fSSEOK8QivNWQ_YJRX_XRs_K0VwU_z3a2HUz78ye1s5e7k8WOasuRYjNbGE55PP9esEgBAmnUwFHFGZqq0As1DgwmZCjEDtgQZpg/s400/P1010110.JPG" border="0" /></a>(Foto: Mendes Júnior)<br /><div></div></div></div></div></div></div></div><br /></div></div></div>Mendes Júniorhttp://www.blogger.com/profile/06083854217559604868noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38570403.post-90949856449643117912009-10-22T19:43:00.022-03:002009-10-23T07:44:30.903-03:00Cadernos de viagem - Praga I<div align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgj7kfqKKYv2E9gYHQMqwHzfhZm_DL0b8BCUNUFL0WfPKlHPVkG-FuTWWLLuXv03Em9exnW7QKqbgKWWhl89QYDBa_ykcijpWvUUTNaShmTIHOW2CXQD_lxEsps6Nuj7uKZcdLghg/s1600-h/P1010121.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5395569200119802034" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; HEIGHT: 300px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgj7kfqKKYv2E9gYHQMqwHzfhZm_DL0b8BCUNUFL0WfPKlHPVkG-FuTWWLLuXv03Em9exnW7QKqbgKWWhl89QYDBa_ykcijpWvUUTNaShmTIHOW2CXQD_lxEsps6Nuj7uKZcdLghg/s400/P1010121.JPG" border="0" /></a>(Foto: Mendes Júnior) </div><div align="center"><br /></div><div align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjX_4EM9uJOQPTL8z3TWAV_4I4wYxVaKFuuOEHwp8AaV4I5A6jKKXilInzQB09lqX7Efik3iH0DtSqTIQ9DeT4WuPwF38FSLurHHAtDZwx1d-r1GqypmW0nnn_Lxa5_QcZnYaTleg/s1600-h/P1010128.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5395568069746560098" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; HEIGHT: 300px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjX_4EM9uJOQPTL8z3TWAV_4I4wYxVaKFuuOEHwp8AaV4I5A6jKKXilInzQB09lqX7Efik3iH0DtSqTIQ9DeT4WuPwF38FSLurHHAtDZwx1d-r1GqypmW0nnn_Lxa5_QcZnYaTleg/s400/P1010128.JPG" border="0" /></a> (Foto: Mendes Júnior)</div><div align="center"><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjzV7g-TK1aD2xCoLVI-mvoqxnKkAjX2SLHkLOgfuUb__Zx5ifLcbdrlCJUdGlOcLVYA0NWPLh4crPhF98a7FCmvCcCu-5e2jUV3ADyelkZeytYhzl5ARdUJkN8jlxMMkfcgsJqeQ/s1600-h/P1010288.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5395566979371585490" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; HEIGHT: 300px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjzV7g-TK1aD2xCoLVI-mvoqxnKkAjX2SLHkLOgfuUb__Zx5ifLcbdrlCJUdGlOcLVYA0NWPLh4crPhF98a7FCmvCcCu-5e2jUV3ADyelkZeytYhzl5ARdUJkN8jlxMMkfcgsJqeQ/s400/P1010288.JPG" border="0" /></a>(Foto: Tarcisio Linhares)<br /><br /></div><div align="center"><div align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgAkSot1j4sben19Nq7RzMbqzw_48qikFFAGEihJXZhudIWjPurSVt9NDPyHkNxKnglPPUV9iQkV2O_9schpDjWbz4lh2rCa9H-tyclZpURy2zCrP5sJ5-2dVm1qHnP0vuzrEMXXg/s1600-h/P1010141.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5395565813893564210" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 300px; CURSOR: hand; HEIGHT: 400px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgAkSot1j4sben19Nq7RzMbqzw_48qikFFAGEihJXZhudIWjPurSVt9NDPyHkNxKnglPPUV9iQkV2O_9schpDjWbz4lh2rCa9H-tyclZpURy2zCrP5sJ5-2dVm1qHnP0vuzrEMXXg/s400/P1010141.JPG" border="0" /></a>(Foto: Tarcisio Linhares) </div><div align="center"></div><div align="center"></div><div align="center"><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjmrsaViUhFvYAalKN4cdbMKZhp4P2_M_rrmWYoeORnGQIW8nUSAwRy91Zl_wryn-CVkSVUol6uCb3iQ3FrllYV8rBHK99gKp0GrjTVqoqVHNC9Df3HGbl-dWChxwyMKQHruhdHlA/s1600-h/P1010175.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5395564662461537090" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 300px; CURSOR: hand; HEIGHT: 400px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjmrsaViUhFvYAalKN4cdbMKZhp4P2_M_rrmWYoeORnGQIW8nUSAwRy91Zl_wryn-CVkSVUol6uCb3iQ3FrllYV8rBHK99gKp0GrjTVqoqVHNC9Df3HGbl-dWChxwyMKQHruhdHlA/s400/P1010175.JPG" border="0" /></a>(Foto: Mendes Júnior)<br /><br /><div align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhvehzbRiFsdI8SIAPC45-VwjcWEdSXpHTcKAzVsawL8u9PlA03VMR8QuU8rn432X6KzB4jTYj3eMWzvSe0EWqW8BiIwvvvicf9BTmrD8OR3tjTVH2jRIcOGYD5blfxjtd2EgovIw/s1600-h/P1010103.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5395563704120169554" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 300px; CURSOR: hand; HEIGHT: 400px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhvehzbRiFsdI8SIAPC45-VwjcWEdSXpHTcKAzVsawL8u9PlA03VMR8QuU8rn432X6KzB4jTYj3eMWzvSe0EWqW8BiIwvvvicf9BTmrD8OR3tjTVH2jRIcOGYD5blfxjtd2EgovIw/s400/P1010103.JPG" border="0" /></a> (Foto: Mendes Júnior)</div><div align="center"></div><br /><div align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg1-5-yLe8tpG0XtLFYM8smAMESPMjoax1dGykuGrLcMDJfrN9vnYg3cEhmqiq4NSJyTlo8qpmbM0ba0wKmfsiCSp_3n9va791tKP-isgyZ8p8SMiKYB_ThEGqlbBPgvHqnFVhg4A/s1600-h/P1010113.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5395563132072514386" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 300px; CURSOR: hand; HEIGHT: 400px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg1-5-yLe8tpG0XtLFYM8smAMESPMjoax1dGykuGrLcMDJfrN9vnYg3cEhmqiq4NSJyTlo8qpmbM0ba0wKmfsiCSp_3n9va791tKP-isgyZ8p8SMiKYB_ThEGqlbBPgvHqnFVhg4A/s400/P1010113.JPG" border="0" /></a> (Foto: Mendes Júnior)<br /><div align="center"></div><div align="center"></div><br /><div align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjT9g5dUakanpIYsG7ote5Jndz-WwZY0KLgYS_6t4tHrAMp3G1E2MDjZOXyutW92k9XrDz3UTLzqhWUByX-43YtwQA_vKZt9gn4JqwC2HBnMLzmpwYnkzxYxCUt2Y9V9twg1lVoQw/s1600-h/P1010119.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5395561341811189762" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 300px; CURSOR: hand; HEIGHT: 400px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjT9g5dUakanpIYsG7ote5Jndz-WwZY0KLgYS_6t4tHrAMp3G1E2MDjZOXyutW92k9XrDz3UTLzqhWUByX-43YtwQA_vKZt9gn4JqwC2HBnMLzmpwYnkzxYxCUt2Y9V9twg1lVoQw/s400/P1010119.JPG" border="0" /></a>(Foto: Mendes Júnior) </div><div align="center"></div><br /><div align="center"><div align="center"></div></div></div></div></div>Mendes Júniorhttp://www.blogger.com/profile/06083854217559604868noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38570403.post-39884625300088812242009-06-13T13:32:00.001-03:002009-06-13T13:34:56.042-03:00De volta...Título de pouca explicação. A senha voltou!Mendes Júniorhttp://www.blogger.com/profile/06083854217559604868noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-38570403.post-30559226954252384322008-08-30T15:34:00.005-03:002008-08-30T15:50:41.261-03:00A vendedora de maçãs<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjDSMgyTBMaLGxvfGlsAVTd8Vs2T5DdsUNq8Q4DQ9W1vm_Ur5baO_ODTODiYvt-Y-Wzc5DUCsNpBJYMpYxx-QZqQxane-GEU7cyp4Aw7oCFSIqZGM7qSoB1ekd5jAU4YH2_3AFAiA/s1600-h/Red+woman+with+apples.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5240384400595750994" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjDSMgyTBMaLGxvfGlsAVTd8Vs2T5DdsUNq8Q4DQ9W1vm_Ur5baO_ODTODiYvt-Y-Wzc5DUCsNpBJYMpYxx-QZqQxane-GEU7cyp4Aw7oCFSIqZGM7qSoB1ekd5jAU4YH2_3AFAiA/s200/Red+woman+with+apples.jpg" border="0" /></a><br /><div><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgx_H9S001wCZYDmI0-5uJOjW5Zty18gOsygDPXGHjYm3eMfPUZN4NHSCf2LzyrINX2QHy6-m7sGlOMsTAa8IZ02yo2h0cM1hD2qYoDn8ob06LAZT-WE2Q3Q6KQWOcGqSDkZNSvkA/s1600-h/Red+woman+with+apples.jpg"></a><br /><br /><div align="justify">"La vida sin miedo<br />resultaba inconcebible"<br /><strong>Juan José Millás</strong><br /><br />Acordou durante a noite alta banhada em suor, com uma repentina vontade de arrancar, com unhas e dentes, as próprias vestes, rasgá-las descontroladamente, a fim de aliviar o bico extremamente disforme do peito, a barriga e o umbigo, que era a essa altura uma miúda poça de água com cheiro de talco. Dia sim, dia não, antes de deitar, empanturrava-se de talco – inocentemente, cria nesta fórmula para ficar mais alva – não gostava da sua morenice, queria mesmo era ter nascida gente branca. Disse qualquer coisa incompreensível enquanto ainda dormia. Salpicavam de sua boca grunhidos que se confundiam com momentos de dor. Contorcia-se em cima de praticamente uma tábua com colcha de retalhos. Até que foi tomada de assalto por um pesadelo tenebroso, medonho e repugnante, de fazer a lua se apagar, de causar o encerramento das chuvas de março e abril, de impedir, portanto, o sangramento do bonito açude do Jaibaras: ela tinha sido colhida por um desses caminhões de pequenas mudanças, um “pega-se frete” abaçanado, com a caçamba lotada de móveis e outros utensílios humildes, entre as movimentadas avenidas Virgílio Távora e Dom Luis. Foi tudo tão real e duradouro que, de olhos esbugalhados e já atentos para a realidade, custou a acreditar se tratarem de imagens criadas pelo seu inconsciente ou subconsciente, vai saber!, enquanto dormia profundamente em razão da estafa de mais um dia de labor intempestivo. Além do mais tinha sido um dia difícil: uns pivetes tentaram levar seu cesto de maçãs, mas um rapaz que montava jogo do bicho em uma das esquinas impediu o desfecho do roubo. A danada era tinhosa que só ela – sequer ofereceu uma de suas maçãs como agradecimento pela audácia do moço, nenhuma palavra, apenas concedeu-lhe um sorriso que mais parecia um “não fez mais do que sua obrigação de homem-macho”. </div><div align="justify"><br />Nunca havia passado por nada parecido. O mais estranho na película fantasiosa da mente era o fato de que assistira à bizarra cena de sua morte como se fosse uma mera espectadora, tal qual uma pedestre plantada esperando o semáforo lhe conceder a vez, quando, de repente, acaba flagrando um acidente fatal e normal em dias como aqueles – véspera de carnaval – de motoristas embriagados e desatentos. Mas o que viu era para lá de incomum: nitidamente sua cabeça foi estraçalhada pelo pneu dianteiro do caminhão. Era como se pudesse internalizar a dor. Sentiu inclusive o cheiro ruim do sangue correndo pela rua igual água nas manhãs chuvosas. Escorregadio ficou o solo. Tudo sufocava. Pensou que poderia ser por há tempos não freqüentar a missa, mesmo diante da insistência de sua mãe, religiosa de carteirinha, que já levara até o Pároco em casa a fim de dar à única filha conselhos cristãos. Só poderia ser esta a maçaroca a lhe tirar o sossego. Nem em datas importantes, tais como Natal e Semana Santa, ia mais à missa. Talvez um aviso; também o preço que se pagava por denegrir a religião, que mal não poderia causar, decerto, senão o acondicionamento da alma diante da fúria da pós-modernidade, como alguns gostam de alardear a três por dois. </div><div align="justify"><br />Pois era tanto do sangue que quis vomitar. E ali, ainda deitada, sem conseguir se refazer da embriaguez do pesadelo, estava ela salivando um azedume de cachaça. Jamais pensara no sangue como naquele momento. Impossível ter imaginado a textura da parte que ficava armazenada na cabeça, até então: uma papa consistente que recobria por onde deixaria suas pegadas de suposta transeunte, misturando-se aos calombos do asfalto causados pela quentura do meio-dia. A consistência do líquido lembrava-lhe a batida de rum que seu pai bebia e que, por causa dela, morrera de problemas no fígado num leito público. </div><div align="justify"><br />Condoeu-se da criatura acidentada, da infeliz que era ela própria, sem falar na repugnância da imagem da mulher de saias com apenas um pedaço da cabeça, pernas arreganhadas, vestida dentro de uma calcinha preta de algodão que não cobria devidamente os pêlos pubianos. A camiseta de malha puída, agora completamente esfarelada pela grosseria da borracha em movimento, seios flácidos e gigantescos à mostra, assim como eram fartos os seus cabelos, que, aliás, foram arrancados e separados em nacos, que já eram incapazes de esconder sua alma despudorada, de quem não recebia sequer os cumprimentos do Pároco. </div><div align="justify"><br />Lá estava ela, despachada e amassada a Deus dará; uma mula-sem-cabeça, mas que não atrapalhava o trânsito – uma brincadeira a que sua mente se permitiu. </div><div align="justify"><br />“Perfeitamente aceitável sonhar com a própria morte” – atinou tentando encontrar justificativas para o injustificável. – “Mas o que dizer quando se vê tudinho, ao vivo e a cores?” </div><div align="justify"><br />Os lençóis estavam empapados. A cama parecia uma pequena piscina, mas a sensação continuava a de um calor intenso, portanto, uma piscina encostada no inferno, com uma improvável termoluminescência interna, proveniente sabe-se lá de onde, em que se fervia constantemente o líquido à temperatura de descamar as costas e o teto da boca. Num caldeirão, isso sim, foi onde pensou estar dormindo até bem pouco tempo. No quarto havia uma janela que se abria em duas partes, e estava escancarada, ventava em demasia, mas o fogo advinha de dentro, da cortiça que cobria sua espinhela. </div><div align="justify"><br />E seu ganha-pão, as famosíssimas maçãs, vermelhas que só vendo!, que eram propagadas pela gostosura (e por que não ressaltar a honestidade no tamanho?), desde os funcionários dos Correios até os advogados de uma banca próxima, descia a ladeira desgovernado, apressado e intocável, para rumo incerto e ignorado, até desaparecer, sem que ela pudesse fazer absolutamente nada – estava morta e mortos não têm direito a movimentos. Logicamente, faltava-lhe esta reação. Mas não precisaria mais vender maçãs nas esquinas de Fortaleza, nem de qualquer outra cidade, incluindo a sua: Manuaba do Norte, para manter a pose e o nariz empinado de outrora. Necessitada a menina, mas cheia de charme nas ventas. Não admitiria a pobreza até se se prestasse ao confessionário. </div><div align="justify"><br />De certa maneira, também se sentia aliviada, (há tempos reclamava de cansaço à mãe, com quem dividia um casebre, que dizia ser um palacete escondido num lugarejo mágico), principalmente aliviada do risco iminente de um câncer de pele pelas infindáveis horas expostas ao sol abrasador de todo dia. Naquele instante, pensou, porém, não se fazer mais necessário qualquer dinheiro, já que pedaço no céu não se comprava. Sabia, contudo, que seu lugar junto aos anjos deveria ter sido conquistado através da força alastrante das boas atitudes, mas enquanto vivíssima e mediante benfeitorias colocadas em prática no plano terreno, como resultado de um mandamento bíblico. Isto aprendera durante as aulas de catecismo da professora Marly Alves, na época em que era uma estudante aplicada na Escola Normal. Aquilo lhe imbuiu um medo súbito. </div><div align="justify"><br />O tempo quedava-se tarde, concluiu. E por quantas vezes agira como uma escrota! Uma filha-da-puta era ela! Gordurenta e morta! E suas maçãs rolando a perder de vista. E ela imersa em água fervendo, certamente das bandas do inferno. Pior do que o atropelamento em si foi pesar a falta de atenção das pessoas para com sua morte, justo de um público sempre tão sedento pela desgraça alheia. Apenas ela se dava conta de alguma coisa fragmentada por um caminhão de frete; tão-somente ela gritava num desespero estreito apontando para a vendedora de maçãs morta à luminosidade do farol tricolor. Ninguém a contemplou. Nem ao acidente, embora tenha havido um grande barulho quando o caminhão arrebentou uma porção de ossos fortes. Não houve quem reparasse no sangue esparramado no cruzamento entre as duas avenidas agitadas, cobrindo, por assim dizer, a cidade de vermelho, como vermelhas eram as maçãs.</div><div align="justify">Mendes Júnior</div><div align="justify">* Conto selecionado no II Concurso Nacional de Literatura Arti-Manhas, em 2008, publicado na coletânea "Contos Escolhidos";</div><div align="justify">** Painting by Valera Iskhakov, "Red woman with apples". </div></div>Mendes Júniorhttp://www.blogger.com/profile/06083854217559604868noreply@blogger.com9tag:blogger.com,1999:blog-38570403.post-25818410014464635602008-08-30T12:06:00.005-03:002008-08-30T15:14:19.131-03:00Indicações Musicoliterárias<div align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiODl5tO0b-9uj28aBGeXcH2OMvrTfrkge2A6XURhd74cBYXiHv18HXVIGDNQerIuzvDmN1-kp6dV6El6Npv7ayiMEsYv0DcwqDDcpRkWXV0PVFXdav9n-yam0C16LXXJfBwNtw-A/s1600-h/Capa.bmp"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5240374060000216658" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiODl5tO0b-9uj28aBGeXcH2OMvrTfrkge2A6XURhd74cBYXiHv18HXVIGDNQerIuzvDmN1-kp6dV6El6Npv7ayiMEsYv0DcwqDDcpRkWXV0PVFXdav9n-yam0C16LXXJfBwNtw-A/s320/Capa.bmp" border="0" /></a> <strong>Capa Selo Dubas</strong></div><div align="center"><br /></div><div align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg_YsuLung75c6cUVjNB1DHHeYr3Uor4jaXOqwiSL_OIjvYUPdMS5TGVPnalBnOpDWlIGCJxfo8QcPjbg6Z-6Wx9-laWNCjG9QUdiFVBEdm9LO6zF-5Krz9rVJ1_Bt35LN60w9FWw/s1600-h/Capa+Sylvinha.bmp"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5240373892828538754" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg_YsuLung75c6cUVjNB1DHHeYr3Uor4jaXOqwiSL_OIjvYUPdMS5TGVPnalBnOpDWlIGCJxfo8QcPjbg6Z-6Wx9-laWNCjG9QUdiFVBEdm9LO6zF-5Krz9rVJ1_Bt35LN60w9FWw/s320/Capa+Sylvinha.bmp" border="0" /></a><strong>Capa Selo Elenco</strong><br /><br /><div align="justify">Queiram me desculpar pela demora: estive ausente. Mas, - se bem lembro -, tratava de mencionar discos "envolventes" da Bossa Nova, pelo seu aniversário. A música, no entanto, por trás de sua melodia e letra, toda sua arquitetura, a emoção que assola o coração mais sensível, esconde personagens interessantes, vistas em sua maioria quando alguém resolve dividir com o grande público histórias de bastidores, peculiaridades, um pouco de suas vidas, (respeitada obviamente a intimidade do amor), algo de suas lutas, os obstáculos etc. Pois bem, três mulheres que devem constar em qualquer manual de Bossa Nova, sob pena de uma falha imperdoável, são Sylvia Telles, Dolores Duran e Maysa, a mulher que nunca deixou de parecer sofrida. Como disse o biógrafo da Bossa Nova, Ruy Castro, em "Chega de Saudade", estas três damas, com suas canções de dor-de-cotovelo, "foram as cantoras mais influentes da década de 50". Pena que morreram muito novas: Dolores com 29, Sylvinha com 32 e Maysa com 41.</div><div align="justify"></div><br /><div align="justify">Pretendo dividir a prosa, começando com Sylvinha Telles. Esta mulher de olhos perfeitos e sorriso largo, foi "descoberta" cantora pelo pai durante uma apresentação no programa "Calouros em desfile", de Ary Barroso, na Rádio Tupi. Isto numa época em que mulher cantar e tocar era, de certa forma, inaceitável. Mas o pai gostou do que ouviu, não bastasse ter namorado João Gilberto em 52, e deduzia não ter mais meios para impedir a filha. Tempos depois, Sylvinha foi convidada a trabalhar num teatro de revista, local de pouca reputação, para cantar a música "Amendoim torradinho", de Henrique Beltrão, e não recusou, mesmo diante do protesto de alguns amigos e do irmão, Mário Telles. A partir daí, a Odeon convidou Sylvinha a gravar "Amendoim torradinho"; era julho de 1955; além do amendoim, tinha a música "Desejo", de Garoto; as rádios adoraram. Tratava-se Pronto, Sylvinha viraria estrela do rádio, do disco e da televisão, a primeira cantora de Bossa Nova do Brasil, segundo Roberto Menescal. </div><div align="justify"></div><br /><div align="justify">Como uma justa homenagem a uma das mulheres mais importantes da Bossa Nova, e da qual pouca gente lembra e fala, indico um disco sensacional: "It might as well be spring", com o selo Dubas, cuja edição original é de 1965, pela Elenco, com arranjos de Lindolfo Gaya. O disco é uma reunião de clássicos da Bossa com versão em inglês, portanto, um desfile de músicos de primeira linha: Menescal, Bonfá, Luiz Eça, das Neves, Russo do Pandeiro, entre outros tantos. Felizmente, mesmo tratando de versões americanizadas da música brasileira, Menescal nos conta que Ray Gilberto, o versionista que atuou muito na ponte Estados Unidos - Brasil, veio morar por aqui e trabalhou diretamente com cada um que participou do disco - não queria perder a métrica. O disco virou referência e muitos artistas americanos gravaram alguma de suas músicas, tal foi o caso de Sarah Vaughan. </div><div align="justify"></div><br /><div align="justify">A seleção é maravilhosa: "Você" e "Tetê", de Menescal e Bôscoli; "Rain (Chuva)", de Durval Ferreira e Pedro Camargo; "Balanço Zona Sul", de Tito Madi; "Pardon my english (Samba torto)", de Tom e Aloysio de Oliveira; "If you went away (Preciso aprender a ser só)" e "The face i love (Seu encanto)", de Marcos e Paulo Sérgio Valle; e outras. Por fim, um ponto interessante que deve ser ressaltado: as capas tanto da edição da Elenco quando da Dubas são do lendário Cesar Villela, que não tocou nenhum instrumento nem cantou, mas que marcou sem dúvida a Bossa Nova. </div><div align="justify"></div><br /><div align="justify">Esteja dito, mas continua.</div><div align="justify"></div><br /><div align="justify">Mendes Júnior</div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div></div>Mendes Júniorhttp://www.blogger.com/profile/06083854217559604868noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38570403.post-51275716743478340472008-08-15T22:24:00.004-03:002008-08-15T22:39:33.053-03:00Laranja<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgqAtf-XceN6Uu0LKcN8wC1vwHP3F1pAKMRtzSPwD2ayhUHM2UbRoCkgZqVWUbDAYHFtt_hj4gU3y9Vgh_mDMt9Q1POv9JTt9dAfzs8dSwt_3OPS0zxa5iMAzyKOgMJpI757Z3ZMA/s1600-h/DSC00974.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5234922853830372706" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgqAtf-XceN6Uu0LKcN8wC1vwHP3F1pAKMRtzSPwD2ayhUHM2UbRoCkgZqVWUbDAYHFtt_hj4gU3y9Vgh_mDMt9Q1POv9JTt9dAfzs8dSwt_3OPS0zxa5iMAzyKOgMJpI757Z3ZMA/s200/DSC00974.JPG" border="0" /></a><br /><div align="justify">Celeste chorava copiosamente ao meu lado. Estava deveras constrangido, pois as pessoas mais próximas, que queriam assistir à apresentação, se sentiam incomodadas com aquela ladainha fanhosa, e a todo instante pediam silêncio, com o indicador colado à boca, o que poderia ser considerado mais do que natural – grosseria grande era o comportamento de Celeste. Desde muito antes, dentro mesmo do carro, ela esboçava um berreiro, embora tenha conseguido manter o rosto enxuto até a primeira vodca. Celeste continuava estranha. Além de todas as esquisitices, era a única pessoa no mundo que bebia vodca sem gelo. Pedia apenas uma laranja cortada ao meio e espremia uma banda por dose, às vezes alterando tão-somente a coloração. Havia uma legião de amigos que sempre votava contra Celeste encarar a vodca nesses moldes, já que volta e meia se excedia e acabava por se arrepender no dia seguinte de alguma bobagem que cometia, no entanto, com a promessa de tudo acabar bem, enfiava a bebida praticamente em estado bruto – quase uma fogueira descendo pela goela; quase uma roseta de arame farpado rasgando a alma.<br />O fato é que ainda não conhecia o porquê do desalento de Celeste e aquilo ficava cada vez mais desconsertante.<br />“Qual o problema, Celeste?”<br />Celeste fazia de conta que não era com ela e sequer se dignava a virar o rosto para o meu lado. Fixava o olhar no palco. Tinha um cigarro no canto da boca. Sentia pena de Celeste: ela vivia solitária num minúsculo apartamento, sem gato, sem cachorro, sem parente, sem marido, só com seus livros e discos. Disse-me certa vez que companheiros mais sinceros do que os livros e os discos não há – “Eles nunca o abandonam”.<br />“E eu, porra?”<br />Mas Celeste me fez um carinho no pescoço e entendi que eu também era importante para ela. Estávamos nus, deitados no tapete da sala, escutando Freddie Hubbard e fumando um baseado. Tínhamos acabado de fazer mais um sexo sem compromisso. Na vida, raros são os momentos de plena paz e Celeste sabia como fisgá-los: pediu um minuto e foi até a estante apanhar um livro. Celeste não era magra, mas não se podia dizer que era gorducha. Celeste era a mulher na medida para o meu gosto. Ao andar, suas mamas balançavam, e me dava prazer ficar observando os movimentos tanto das tetas quanto das nádegas de Celeste, que também se deslocavam de forma peculiar, muito embora com mais timidez.<br />“Olha que coisa bonita!”, disse-me Celeste, abrindo Thérèse Desqueyroux, de François Mauriac, para ler um trecho. Antes, ressaltou que se tratava da história de uma interessante mulher.<br /><em>(O pensamento de Teresa se destacava do corpo desconhecido que elaborara para sua alegria; cansava-se de sua felicidade, experimentava a saciedade do imaginário prazer – inventava outra evasão).<br /></em>Terminou e ficou parada, esperando que eu dissesse alguma coisa, mas ainda tentava entender se havia relação entre Teresa e Celeste. Talvez não houvesse, apenas uma passagem ficcional, ou, quem sabe, poderia haver até demais: Celeste estava inclinada a pensar um mundo sem os escrotos de plantão e repetia em tom solene que sua maneira de enxergar a porcaria da vida havia mudado: estava cansada e cagando para gente feito eu.<br />“Eu, porra?”<br />Celeste me pediu sinceras desculpas. Enlouquecia. Há dias vinha desenvolvendo uma revolta incomum e, portanto, que não levasse em consideração algumas coisas de que falava. Gostava muito de mim, tranqüilizou-me, completando: na amizade não temos de nos explicar, mas entender que todos sofremos e que não por isto deixamos de amar uns aos outros, e era isso que queria de mim naquele instante da sua vida: compreensão e reciprocidade dos sentimentos, não só quando na magia legítima do sexo, mas por todo o sempre, mesmo que isto custasse uma lasca do couro das costas. Celeste era pragmática na maioria de suas falas, apenas no afloramente da inibida veia poética é que surgia com um certo obscurantismo, que me deixava imerso num enorme ponto de interrogação. Qual a Teresa? Qual a Celeste? Continuamos, ao som de Arietis, bebendo e dando tapas no baseado. O cheiro da mão de Celeste tinha assumido a conotação cítrica da laranja enquanto a minha parecia estar dentro de uma luva de ervas.<br />Realmente, notara que Celeste estava variando de humor ultimamente. O pior é que não se entregava, não queria conversar sobre o mal que a atormentava. Claro que eu insistia, mas não havia meio de decifrar a nova Celeste. Ela me perguntou o que eu achava dos poetas malditos, mas, mesmo que quisesse, não seria capaz de dizer algo atraente e preferi me quedar no silêncio. Melhor do que dizer babaquices. Sou daquele tipo que quando não domina determinado assunto me calo rápido, a fim de não passar vexame desnecessariamente.<br />“A Celeste agora só se ocupa com os malditos” – falou na terceira pessoa, e isto me deixou ainda mais intrigado. – “Franceses são uns merdas fodões! Você não acha?”<br />Os raios da manhã já entravam pela janela. A noite e a madrugada se foram bandidas. Resolvi tomar um banho quente na banheira de Celeste. Não sei se pela vodca, pela maconha ou pelo cansaço, mas Celeste, ao tentar cortar uma laranja, acabou acertando a mão, abrindo uma fenda de médio porte, e o sangue se misturou ao cheiro da laranja. Contou-me o que aconteceu quando entrou na banheira, pois fiquei assustado ao notar a água se avermelhando.<br />“Porra!”<br /><br />(...)<br /><br />Celeste não parava de chorar.<br />“Qual o problema, Celeste?”<br />“Nada”.<br />“Mas como nada? Você está mal e persiste na idéia de não se abrir comigo. Por quê?”<br />“Por nada”.<br />No acanhado palco da boate, um tal de Juan Miranda entremeava no piano baladas cubanas e jazz. Achei que Celeste fosse aprovar meu convite, mas só me decepcionava.<br />Lembrei de Teresa. Melhor: do pouco que conhecia da personagem de Mauriac. Queria saber mais sobre sua história, entretanto me restava unicamente o fato de que Teresa estava cansada da felicidade, e talvez fosse esta a tormenta de Celeste: cansaço. Mas Celeste nunca foi feliz, portanto, sua fadiga poderia ser de tudo: da vodca, da laranja, do sexo, da solidão, de mim ou do Juan Miranda, que agora tocava uma habanera, chamada <a href="http://www.musica.cult.cu/musica/012a.mp3">Mariposita de primavera</a>, menos por excesso de felicidade. Celeste era uma mulher arrasada desde que sua irmã falecera num acidente de automóvel. Assim como Teresa, não conhecia muito da irmã de Celeste, apenas que era mais nova e que recebia os cuidados da mais velha, pois cresceram diante da ausência dos pais. Celeste era tudo que a menina tinha e vice-versa, razão pela qual ficou desamparada quando ligaram no meio da tarde avisando da fatalidade.<br />Celeste me propôs irmos para o seu apartamento. A laranja estava exageradamente doce e aquilo lhe causava náuseas. Achei que fosse brincadeira de Celeste jogar a culpa na laranja, mas vi que ainda chorava e preferi não aborrecê-la com minhas teorias de comportamento. Claro que aceitei ir com Celeste, raramente a contrariava. Durante o caminho até o carro, senti uma enorme vontade de segurar sua mão, porém a desocupada era a que tinha a cicatriz e eu não achava confortável. Na outra, um cigarro enodado de batom escuro.<br />“Celeste, tenho pena de você”.<br />“Também tenho”.<br />“Por que então não me fala o seu problema?”<br />“Você não iria entender”.<br />“Por que não tenta?”<br />“Você não vai entender”.<br />“Por quê?”<br />“Vai à merda!”<br />Talvez o pensamento de Teresa explicasse a nova Celeste; talvez explicasse qualquer coisa. Não é a felicidade o âmago da questão, mas se apartar do corpo que ora nos é desconhecido, amargo e podre, é mudar tudo, é correr léguas até o gozo, é vestir uma outra fantasia, seja ela de Apolo ou Dionísio, é sujar o rosto quando necessário, é pagar o preço.<br />Celeste já não chorava. Celeste já não cheirava à laranja. </div><div align="justify">Mendes Júnior</div><div align="justify">* Conto selecionado no Prêmio de Literatura Unifor 2007</div><div align="justify">** Photo by Mendes Júnior </div>Mendes Júniorhttp://www.blogger.com/profile/06083854217559604868noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-38570403.post-69646224118384821162008-07-29T23:36:00.011-03:002008-07-29T23:57:55.850-03:00Lançamento "O engraxate e outros suicidas" na Casa da Cultura de Sobral<div align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhkSuufjKehXz-LzkFK0LjRh27GODv00VfvXSu9p5kUaj76FmZK-EiCamcsdJIglp11EISRsGw0PNAQhQzDpXUVoBa7xjGXa2hfrccUnm9CGNrdsxSMoAy_xvotQFl81wtYn1TTXA/s1600-h/DSC04185.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5228635229103845058" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhkSuufjKehXz-LzkFK0LjRh27GODv00VfvXSu9p5kUaj76FmZK-EiCamcsdJIglp11EISRsGw0PNAQhQzDpXUVoBa7xjGXa2hfrccUnm9CGNrdsxSMoAy_xvotQFl81wtYn1TTXA/s320/DSC04185.JPG" border="0" /></a> Mendes Júnior</div><div align="center"><br /><div align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiuQqJFy4lLXdFTf512vE9FZ65gte_r9BuXs3CV0cxtskSysCpVQEp4xRO4ecyEtEA5msUJyKofe1Qsa883VXNhUaPY_4nnrGVEjqm7fwV2yOOX77Yy543EaeaR174XGDbXdAOjPQ/s1600-h/DSC04315.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5228634252621774802" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiuQqJFy4lLXdFTf512vE9FZ65gte_r9BuXs3CV0cxtskSysCpVQEp4xRO4ecyEtEA5msUJyKofe1Qsa883VXNhUaPY_4nnrGVEjqm7fwV2yOOX77Yy543EaeaR174XGDbXdAOjPQ/s320/DSC04315.JPG" border="0" /></a> Diego Pinto, Monique Pinto e Diva Elisa</div><div align="center"><br /><div align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhNSUHQhLZwvJlkDJHhhZgnS1zf_8NkKEWMxDsFtcQ_gvIQnCwrtC0gpBLEYMAqnMJaQbAMwaivfj3Q0KLdzbACcd0eDHIL91EviWKyMlhFMycdq-EQo5JSzu4ZnDlNaolcwhhn0w/s1600-h/DSC04267.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5228633500351384978" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhNSUHQhLZwvJlkDJHhhZgnS1zf_8NkKEWMxDsFtcQ_gvIQnCwrtC0gpBLEYMAqnMJaQbAMwaivfj3Q0KLdzbACcd0eDHIL91EviWKyMlhFMycdq-EQo5JSzu4ZnDlNaolcwhhn0w/s320/DSC04267.JPG" border="0" /></a> Mendes Júnior e José Wilton<br /><br /><div align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjUJQylFxMWFb-BqPB0QccjgAiRe2RhawsscKgh4Z36K4rg49zAvh8lIj-pF1pEJp-uzOzDWArfs1h_OsgMAWMiXZpQvjwTq0JGbEBGGlPMeXduM9xDcLb7ZcfzzWJvpAf54c8Ccw/s1600-h/DSC04191.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5228633248354210642" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjUJQylFxMWFb-BqPB0QccjgAiRe2RhawsscKgh4Z36K4rg49zAvh8lIj-pF1pEJp-uzOzDWArfs1h_OsgMAWMiXZpQvjwTq0JGbEBGGlPMeXduM9xDcLb7ZcfzzWJvpAf54c8Ccw/s320/DSC04191.JPG" border="0" /></a> Herbert e Mendes Júnior<br /><br /><div align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEisUGzyWmp09Eq6GLJHrhad_Y_E51oSJ-rPUK9oVQA1DvXK2_VvKYnAbvVD4NPqfc1-Ax8WXO4ICSA_FllolPHRyFvhrHN_H0U58-a_nUEkvnolgiIHWLYya2W85vN8XV8H3DYYzw/s1600-h/DSC04314.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5228632884830519970" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEisUGzyWmp09Eq6GLJHrhad_Y_E51oSJ-rPUK9oVQA1DvXK2_VvKYnAbvVD4NPqfc1-Ax8WXO4ICSA_FllolPHRyFvhrHN_H0U58-a_nUEkvnolgiIHWLYya2W85vN8XV8H3DYYzw/s320/DSC04314.JPG" border="0" /></a> André Adeodato, Diva Elisa e Mendes Júnior<br /><br /><div align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjIXo7ZNrjreklOqYyE6AD9xj5XBVX8X3LLvHV7HfdFWmIPpA5-75s8YJuvPGOq7YREi2w2jbcsBGvCKk4DANEYpljGHeuRlLC6wmUQ6wY5OIMxWnTwjGv3GloRUYV-R-AJYvxm9A/s1600-h/DSC04311.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5228632493289075954" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjIXo7ZNrjreklOqYyE6AD9xj5XBVX8X3LLvHV7HfdFWmIPpA5-75s8YJuvPGOq7YREi2w2jbcsBGvCKk4DANEYpljGHeuRlLC6wmUQ6wY5OIMxWnTwjGv3GloRUYV-R-AJYvxm9A/s320/DSC04311.JPG" border="0" /></a> Mendes Júnior, Tião e André Adeodato<br /><br /><div align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgho660S0jSEjnqi5oUy_Oxl8rLtHsGElSVW56EE9ZQnRtMNO9hIO1B_YceXQ2AMcxCYK6TrpeDn-C2DJJKDLEx5iMrdOEjLEx5sD_Rng9Q09K7od7n2htRGY1_tcOb0CU7qS6y3A/s1600-h/DSC04293.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5228631981064398914" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgho660S0jSEjnqi5oUy_Oxl8rLtHsGElSVW56EE9ZQnRtMNO9hIO1B_YceXQ2AMcxCYK6TrpeDn-C2DJJKDLEx5iMrdOEjLEx5sD_Rng9Q09K7od7n2htRGY1_tcOb0CU7qS6y3A/s320/DSC04293.JPG" border="0" /></a> Aleandro e Iana<br /><br /><div align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgn6LkE71m_JbRjQ-8Jt1p_0wabyU1bGKt9fYoNnGBcOKVTF2VDdq0efWeqIzEjwFGE9EvKzL_FHhvh3bJeM-CXVF40QBwBIb-7Q1cq_3OlFktjhdenq2oKUrnLSi6R722RhJFmWQ/s1600-h/DSC04281.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5228631744489959586" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgn6LkE71m_JbRjQ-8Jt1p_0wabyU1bGKt9fYoNnGBcOKVTF2VDdq0efWeqIzEjwFGE9EvKzL_FHhvh3bJeM-CXVF40QBwBIb-7Q1cq_3OlFktjhdenq2oKUrnLSi6R722RhJFmWQ/s320/DSC04281.JPG" border="0" /></a> Mendes Júnior e Roberto Sales<br /><br /><div align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgCGJp0NRyf1JjFEj72DPk-TGVJocRuJbEb9jYHOSinlKbj7_oiO7QFEtXEnodhN5VNYhdItV9yqS2NxhXysFkyhtIyePu5TujxBIkUZdxKh_MwD8g5OwZuX3I0TymcJfJM5XSp4A/s1600-h/DSC04275.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5228631480068312434" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgCGJp0NRyf1JjFEj72DPk-TGVJocRuJbEb9jYHOSinlKbj7_oiO7QFEtXEnodhN5VNYhdItV9yqS2NxhXysFkyhtIyePu5TujxBIkUZdxKh_MwD8g5OwZuX3I0TymcJfJM5XSp4A/s320/DSC04275.JPG" border="0" /></a> Rodrigo Araújo e Mendes Júnior<br /><br /><div align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi5bLYaV4gcmyTTfBpxuKhQNkkNiJjfykfVC0mLqn71jrz2c5ej_1vOHVReXE3nlIsK9OL99GFwXGas7GCH5Dp-28RxocgwX3MRnjMIzx0OOi56hFCVXYk4aI_HIpCeOEFJg51SzQ/s1600-h/DSC04193.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5228631062632864210" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi5bLYaV4gcmyTTfBpxuKhQNkkNiJjfykfVC0mLqn71jrz2c5ej_1vOHVReXE3nlIsK9OL99GFwXGas7GCH5Dp-28RxocgwX3MRnjMIzx0OOi56hFCVXYk4aI_HIpCeOEFJg51SzQ/s320/DSC04193.JPG" border="0" /></a> Dr. Walter Neto, Luciana e Filho<br /><br /></div></div></div></div></div></div></div></div></div></div>Mendes Júniorhttp://www.blogger.com/profile/06083854217559604868noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-38570403.post-90548604357873055622008-07-16T11:52:00.003-03:002008-07-16T14:59:48.047-03:00Indicações Musicoliterárias<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjCs_Zgk7zbjvvIaF3X_yvTcb9OTYsPy5VdDqGytIxfWWq19r44agL9b1no9LClDbq2ZH8CzUWTg0lSbsas2vv0tT_EaNw4FTYfMpKWAtya4akWfzK9W1mj1MboSdt3kpsrQv_W7w/s1600-h/Big+Band+Bossa+Nova.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5223637120675792578" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjCs_Zgk7zbjvvIaF3X_yvTcb9OTYsPy5VdDqGytIxfWWq19r44agL9b1no9LClDbq2ZH8CzUWTg0lSbsas2vv0tT_EaNw4FTYfMpKWAtya4akWfzK9W1mj1MboSdt3kpsrQv_W7w/s320/Big+Band+Bossa+Nova.jpg" border="0" /></a><br /><div align="justify">Estamos comemorando os 50 anos da Bossa Nova. É possível que todos tenham conhecimento do fato, que considero de grande relevância, por várias razões, as quais não nominarei, senão dizer da mais simples de todas: sou fã. Na Flip (Feira Literária Internacional de Paraty) deste ano, uma das mesas foi dedicada ao assunto, composta por um de seus fundadores, Carlos Lyra, que nos brindou com histórias deliciosas de uma época que não se vive mais, e que há muito deixa saudade. Estarei, nos próximos dias, indicando obras relacionadas com a Bossa Nova, desde nomes daqui quanto de bem longe destas plagas, como forma de compartilhar a música brasileira.</div><br /><div align="justify">O primeiro disco que trago ao blog foi gravado em apenas dois dias: 27 e 28 de agosto de 1962, na cidade de New York, e tem o selo Verve. Isto não significa, ou seja, a gravação em dois dias que o trabalho foi descuidado, ao contrário, muito bem arranjado e tocado por um time de primeira. Refiro-me ao "Big Band Bossa Nova", de Stan Getz. Razões desfilam para comprovar a riqueza do disco. Os arranjos são de Gary McFarland, um dos mais significativos para as orquestras de jazz nos anos 60, que tem parte de sua discografia relacionada ao "latin jazz" e ao "samba". Outra questão a se levar em consideração é o repertório: "Manhã de Carnaval", "Samba de Uma Nota Só", "Bim Bom" e "Chega de Saudade" são nossas conhecidas, mas a maneira como são conduzidas, não; ficaram fantásticas, e não pensem se tratar de um exagero. Há ainda as músicas do próprio Gary McFarland: "Balanço no Samba", inspirado no filme "Orfeu Negro"; "Entre Amigos", que tem uma maravilhosa entrada; "Melancolico"; e "Noite Triste". Importado, mas vale conferir.</div><br /><div align="justify"></div><div align="justify"><strong>Músicos</strong>: Stan Getz (tenor saxophone); Gary McFarland (conductor); Doc Severisen, Bernie Glow, Joe Ferrante, Clark Terry, Nick Travis (trumpet); Ray Alonge (French horn); Tony Studd, Bob Brookmeyer, Willie Dennis (trombone); Ray Beckenstein (flute, clarinet); Gerald Sanfino (flute); Eddie Caine (alto flute); Babe Clark, Walt Levinsky (clarinet); Romeo Penque (bass clarinet); Hank Jones (piano); Jim Hall (guitar); Tommy Williams (bass); Johnny Rae (drums); Jose Paulo (tambourine); Carmen Costa (cabassa). </div><br /><div align="justify"></div><br /><div align="justify">Esteja dito.</div><div align="justify">Mendes Júnior</div>Mendes Júniorhttp://www.blogger.com/profile/06083854217559604868noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-38570403.post-35616908130840759922008-07-15T18:45:00.013-03:002008-07-15T19:08:27.778-03:00Lançamento "O engraxate e outros suicidas" na Casa da Cultura de Sobral<div align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg3HLAJZaJFK3A83HxhMJArmOc_OuG8lNjj8tXTUhNuuPc3YA9VGPKhmMfVCjy2bSGuYf0rFGWE9F2gRU4PIrLkv9JcpTrgl61GArAVh1zdP1oCBefg4uMFhEYYXlEqwdtjmHtV4Q/s1600-h/DSC04184.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5223365192753911218" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg3HLAJZaJFK3A83HxhMJArmOc_OuG8lNjj8tXTUhNuuPc3YA9VGPKhmMfVCjy2bSGuYf0rFGWE9F2gRU4PIrLkv9JcpTrgl61GArAVh1zdP1oCBefg4uMFhEYYXlEqwdtjmHtV4Q/s320/DSC04184.JPG" border="0" /></a> Mendes Júnior</div><div align="center"><br /><div align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEitap3Wq59tubEap8p0UfpNeGP6z5A67c-10Tybu8zo7BB3qAcVsozKjTiEC4YBJLDmeSEaRYM33HEmIERpIYZqDpES9kfc_0hb31pMpQE_1zdxvZE1GKTSVo7SyZ53yD7gteQo4g/s1600-h/DSC04294.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5223364555028912786" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEitap3Wq59tubEap8p0UfpNeGP6z5A67c-10Tybu8zo7BB3qAcVsozKjTiEC4YBJLDmeSEaRYM33HEmIERpIYZqDpES9kfc_0hb31pMpQE_1zdxvZE1GKTSVo7SyZ53yD7gteQo4g/s320/DSC04294.JPG" border="0" /></a>Mendes Júnior, Aleandro Linhares e Iana </div><br /><div align="center"><div align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiT3x-hJhMEX2VEPoHc30EVqT4ZEI_gQzrAFXNUtTHTan_7Dndg9lF6Y8qdYFRaNXvtC38qaG6LIAdUnWR7wDKjHBm5-AoTCnq3LtVpdrIUJNjE2ELT4axkiLFgdq4M1eY36vfXMA/s1600-h/DSC04198.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5223363147749452642" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiT3x-hJhMEX2VEPoHc30EVqT4ZEI_gQzrAFXNUtTHTan_7Dndg9lF6Y8qdYFRaNXvtC38qaG6LIAdUnWR7wDKjHBm5-AoTCnq3LtVpdrIUJNjE2ELT4axkiLFgdq4M1eY36vfXMA/s320/DSC04198.JPG" border="0" /></a>Aryana Lima, Suellen Luna e Luana Lima<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhTu8eJYGodHevnLKK7O18U-QzcbKGE4UhI9Ww_HY-T6R9YmWwpYdYLpDfxrMbA4lWeXV3mQUS9VF0P22aQpeo2PGxWmmAyBn4xtCrY-0eSNU-DMLBJxjNfQETrYN4pACPpEBTvDA/s1600-h/DSC04181.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5223362370639618434" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhTu8eJYGodHevnLKK7O18U-QzcbKGE4UhI9Ww_HY-T6R9YmWwpYdYLpDfxrMbA4lWeXV3mQUS9VF0P22aQpeo2PGxWmmAyBn4xtCrY-0eSNU-DMLBJxjNfQETrYN4pACPpEBTvDA/s320/DSC04181.JPG" border="0" /></a> Suellen Luna e Carlos Antonio</div><div align="center"><div align="center"><br /><div align="center"><div align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgG_GjRII47Wzu_0g9J7zETpLNi84BVpn1ieUtFVl4qhklGDXvMbbb7AdyDxQNfp2eGqutlgchj8GabGFe4Sj93jvMG3xYHy9ZOOiZZZcWzkKMCfAiv-99Q6taP_QP7Rw6nb6aglA/s1600-h/DSC04190.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5223361972924910626" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgG_GjRII47Wzu_0g9J7zETpLNi84BVpn1ieUtFVl4qhklGDXvMbbb7AdyDxQNfp2eGqutlgchj8GabGFe4Sj93jvMG3xYHy9ZOOiZZZcWzkKMCfAiv-99Q6taP_QP7Rw6nb6aglA/s320/DSC04190.JPG" border="0" /></a> Dr. Cícero, Joyce e Filhos</div><div align="center"><br /><div align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhQ0w5BB2IjYCNDaxRotQfq6pt4wKyUCryboklLBIz-yhL0Vuv9jXzWqxnkWpYIHPmhGqzP5VWF0dXHv4ybK763w-u7avCuce6HrgLTs1t8Cy-MOhraBs3OflhVe6cBgyZ4nVIboQ/s1600-h/Chico+Prado+e+Mendes+Júnior.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5223361527211780994" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhQ0w5BB2IjYCNDaxRotQfq6pt4wKyUCryboklLBIz-yhL0Vuv9jXzWqxnkWpYIHPmhGqzP5VWF0dXHv4ybK763w-u7avCuce6HrgLTs1t8Cy-MOhraBs3OflhVe6cBgyZ4nVIboQ/s320/Chico+Prado+e+Mendes+J%C3%BAnior.JPG" border="0" /></a> Chico Prado e Mendes Júnior</div><br /><div align="center"><div align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhw4p-RWVScLailOvyIe5CxMVKiYrGQvVgk2BTaWqVRJUT8REbP4inQE4ntxeE00rB8U3k-MCHy1xrjT1EPobqU3_2AYke6aUnTud8O9Z93ro25RtWFHluaS-G9YuWNzNQd1E6iaw/s1600-h/Zélia+Mendes+Carneiro+e+Mendes+Júnior.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5223361120788380482" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhw4p-RWVScLailOvyIe5CxMVKiYrGQvVgk2BTaWqVRJUT8REbP4inQE4ntxeE00rB8U3k-MCHy1xrjT1EPobqU3_2AYke6aUnTud8O9Z93ro25RtWFHluaS-G9YuWNzNQd1E6iaw/s320/Z%C3%A9lia+Mendes+Carneiro+e+Mendes+J%C3%BAnior.JPG" border="0" /></a> Zélia Mendes Carneiro e Mendes Júnior</div><br /><div align="center"><div align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhnrD7er_97tmlYRygMpslsWThFR_gUEs0q22JzmDPqtekR4ymtmt2koNwA_wBk1-c0LB35kxAgo-JO2iHBvVyT5DbuRe4jgYSHS11gGtHyRyO05SgDryzZhQ2xB_J8z7_il683tg/s1600-h/João+Sales+e+Mendes+Júnior.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5223360764131835698" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhnrD7er_97tmlYRygMpslsWThFR_gUEs0q22JzmDPqtekR4ymtmt2koNwA_wBk1-c0LB35kxAgo-JO2iHBvVyT5DbuRe4jgYSHS11gGtHyRyO05SgDryzZhQ2xB_J8z7_il683tg/s320/Jo%C3%A3o+Sales+e+Mendes+J%C3%BAnior.JPG" border="0" /></a> João Sales e Mendes Júnior<br /></div></div></div></div></div></div></div></div></div>Mendes Júniorhttp://www.blogger.com/profile/06083854217559604868noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38570403.post-7730838404711106052008-07-15T00:08:00.003-03:002008-07-15T00:18:44.005-03:00Portas azuis<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh_bgx22tBSfTDKd_nYVTDfdoDsOZIz0A-K0SiyjzA9pxV8P-6q8YeQ9jmS4IqFeqqgnl-dthJZbfoim8M9dM5w2KuEofKmhw8U4Acv1bsYzJRE7voacCwGi3zAitoVGPqsK0Oovw/s1600-h/Fan+8.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5223073034861546370" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh_bgx22tBSfTDKd_nYVTDfdoDsOZIz0A-K0SiyjzA9pxV8P-6q8YeQ9jmS4IqFeqqgnl-dthJZbfoim8M9dM5w2KuEofKmhw8U4Acv1bsYzJRE7voacCwGi3zAitoVGPqsK0Oovw/s200/Fan+8.jpg" border="0" /></a><br /><div align="justify">15/07/2008.</div><br /><div align="justify"></div><br /><div align="justify">As batidas das portas do fundo provocaram arrepios em Madalena, haja vista sua mão que não desgrudava do meu pijama. Apertava com mais vigor a cada nova bordoada. Suas unhas descascadas e longas, antes apenas maliciosas, perfuraram o pano e cravaram na pele da minha cintura. Pedi que se acalmasse, não era nada demais, apenas um forte vento anunciado mais cedo pelo cheiro da terra. Disse-me que, em pesadelo na noite do santo, havia acontecido exatamente igual: o telhado desabaria em pouco tempo. Claro que não lhe dei ouvidos. Num esforço que só Deus era testemunha, levantei-me; fui até a cozinha resolver o problema que me tirava do sono. Até o Biriba estava com uma expressão de medo – um gato que herdara junto com a casa. Buscou abrigo ao lado da geladeira, diante do olhar vigilante de um pingüim de cerâmica, que, do alto, planificava o abatimento daquele que ameaçava seu território. Vez ou outra Biriba levava um choque e miava estranho. O pingüim de cerâmica insuflava o peitoral alvinegro. Das três portas, somente duas estavam escancaradas; faziam movimentos compassados, mas de forma a se desvencilharem das paredes antigas.<br />A casa foi herança de uma tia, que talvez se chamasse Francisca das Dores. Estava talhado no tronco da árvore que ficava no quintal: “Quintino Alves e Francisca das Dores, eternamente”. No cartório, o que se leu foi bem diferente: Marlúcia Dias, que morrera aos cinco dias de fevereiro do mesmo ano, solteira, deixou ao único familiar, eu, o casarão da rua Moraes de Figueiredo, bem como todos os bens móveis de seu interior e semoventes. Madalena e eu nos mudamos no começo do outro ano.<br />As portas eram azuis, como azuis eram os olhos do Biriba, que nunca estiveram tão esbugalhados quanto durante a ventania. Madalena gritava pelo meu nome quando subi na cadeira para fechar os ferrolhos de cima. Portas com fechaduras no alto, no centro e no chão, altas, grossas, sem maçanetas e com dobradiças enferrujadas e alardeadeiras. Foi necessária muita força até descobrir que era incapaz fechá-las. Levei uma pancada no rosto e cai de costas. Durante um período, fiquei olhando o telhado; imaginei o pesadelo de Madalena se tornando realidade. Senti um molhado na perna. Não havia reparado, mas descia um fio de sangue da minha cintura. As unhas de Madalena agora me pareceram uma navalha. Do meu nariz, já era diferente: o sangue jorrava.<br />O vento não dava trégua e o barulho começou a vir de outra parte – talvez da entrada do casarão. A terceira porta do fundo também se abriu. A minha impressão foi de que não havia separação com o lado de fora, como se não mais existissem paredes, somente o teto. Por sorte, não chovia. Madalena, de tanto gritar, deve ter cansado e dormido. Não consegui me mexer; permaneci deitado no chão. Olhei de lado e não vi o Biriba. No alto, vigas sólidas prendiam telhas cobertas de uma camada esverdeada; nas madeiras mais finas se viam agarradas cascas de laranja – meninices de outras épocas. O telhado não desabaria, pensei comigo, enquanto ao meu redor se formava uma enorme poça de sangue. Minha vista foi ficando turva, as imagens desaparecendo e os ossos sendo assolados por uma frieza incomum; notei meu corpo afastado de mim: não comandava ação alguma. Madalena, minha doce Madalena, você estava com a razão: não há mais teto para mim; o breu é o que tenho diante dos olhos; tudo se fez noite; miro o telhado e não dou com ele.<br />O rumor continuou vindo das portas em encontrões até o amanhecer, mas Madalena, por dormir em profundidade, já não escutava. Biriba, de um salto, se juntou ao pingüim de cerâmica em cima da geladeira; ficaram amigos; às vezes brincam no quintal, ao pé da árvore. Sobre suas cabeças, dias ensolarados e noites estreladas. Por sorte, nunca chovia e o casarão permanecia seco.</div><div align="justify">Mendes Júnior</div><div align="justify">* Painting by David de Almeida, "Fan 8".</div>Mendes Júniorhttp://www.blogger.com/profile/06083854217559604868noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38570403.post-33141185260368191282008-07-14T20:26:00.015-03:002008-07-14T21:13:36.659-03:00Lançamento "O engraxate e outros suicidas" na Casa da Cultura de Sobral<div align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjuOlo8-SgCVcNMr4ockKm79ot7asS-qQohyphenhyphen0LIXIl06stS3ZSDk1Zu3wVBGLhYToHgOlcDK2S1QhegSlDppmZF4R9gPxCmO8BIyuaJR-0dV-vvH_yii-Qi99dqOcgmjmx-wq1kyA/s1600-h/Mendes+Júnior+e+Amigos.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5223023352186574546" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjuOlo8-SgCVcNMr4ockKm79ot7asS-qQohyphenhyphen0LIXIl06stS3ZSDk1Zu3wVBGLhYToHgOlcDK2S1QhegSlDppmZF4R9gPxCmO8BIyuaJR-0dV-vvH_yii-Qi99dqOcgmjmx-wq1kyA/s320/Mendes+J%C3%BAnior+e+Amigos.JPG" border="0" /></a>Mendes Júnior e Amigos </div><br /><br /><div align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh8Rq-DCNrzkzgB5XE-6Gt3QlzZfPgZSxAwH-Ule4UOgwIAKVnVYUAStHTBnnHGwr0lIgUBke3nrHMKraKPeazBSRYRALlPI4Snv7BBD9Ps5g99hJxG_fhQ2Urm3l9Lo4Y6Lcv9fQ/s1600-h/Mendes+Júnior+e+Adaldécio+Linhares.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5223022596589403090" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh8Rq-DCNrzkzgB5XE-6Gt3QlzZfPgZSxAwH-Ule4UOgwIAKVnVYUAStHTBnnHGwr0lIgUBke3nrHMKraKPeazBSRYRALlPI4Snv7BBD9Ps5g99hJxG_fhQ2Urm3l9Lo4Y6Lcv9fQ/s320/Mendes+J%C3%BAnior+e+Adald%C3%A9cio+Linhares.JPG" border="0" /></a>Mendes Júnior e Adaldécio Linhares </div><br /><br /><div align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgcZqcmcI5m9O4irA3gP2vQIWV3sx1kg6C9Ik_GXU3oiWYHIkU5Ch5n_mx4adyCYAqni1a_SrKlbXRQXEKHr0-vBpMLaOeCrOprTJLbLYZiZEaCarKiXD9fHVK0I5qqspqgX15nrA/s1600-h/Mendes+Júnior+e+Família.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5223021945102749026" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgcZqcmcI5m9O4irA3gP2vQIWV3sx1kg6C9Ik_GXU3oiWYHIkU5Ch5n_mx4adyCYAqni1a_SrKlbXRQXEKHr0-vBpMLaOeCrOprTJLbLYZiZEaCarKiXD9fHVK0I5qqspqgX15nrA/s320/Mendes+J%C3%BAnior+e+Fam%C3%ADlia.JPG" border="0" /></a>Mendes Júnior e Família </div><br /><br /><div align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgc-FCTO9XaJTpn8f6dm7RxNZmifda7ech8Yihqo-UrL-QMBtZcGZeVACKQDRDsyqThwNwigT2Zi7_j5q6N_Ld8Cp8LYwqStS3vaw8F1rZuYHAkt-2byZ5GSpqZgpDSvrgj5J3_Wg/s1600-h/Dr.+Judicael+Sudário,+Mendes+Júnior+e+Carlos+Antonio.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5223021046027774546" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgc-FCTO9XaJTpn8f6dm7RxNZmifda7ech8Yihqo-UrL-QMBtZcGZeVACKQDRDsyqThwNwigT2Zi7_j5q6N_Ld8Cp8LYwqStS3vaw8F1rZuYHAkt-2byZ5GSpqZgpDSvrgj5J3_Wg/s320/Dr.+Judicael+Sud%C3%A1rio,+Mendes+J%C3%BAnior+e+Carlos+Antonio.JPG" border="0" /></a>Dr. Judicael Sudário, Mendes Júnior e Carlos Antonio </div><br /><br /><div align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjuVtse1Z73Le8oCIqGXfXnJL2ciK06C-2HJYVl9VNTP6uMZedAl4l4bdTIO0C0zQ2NVs05nPYK3ggiJEOGeFDCxVHG78icXH_HfR9IKSMhDsJo_6Fu8L8zOaA0_HEvzS5J13tGng/s1600-h/João+Ribeiro+e+Mendes+Júnior.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5223020452506955042" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjuVtse1Z73Le8oCIqGXfXnJL2ciK06C-2HJYVl9VNTP6uMZedAl4l4bdTIO0C0zQ2NVs05nPYK3ggiJEOGeFDCxVHG78icXH_HfR9IKSMhDsJo_6Fu8L8zOaA0_HEvzS5J13tGng/s320/Jo%C3%A3o+Ribeiro+e+Mendes+J%C3%BAnior.JPG" border="0" /></a>João Ribeiro e Mendes Júnior </div><br /><br /><div align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjFhmm_QL-cx5bvYPkjmHnVsQ0NB2BhvsH9DdnjO2kWE7pXGi5OGAqQ4SnxYkSCBXQHxAP-f6-MvOhghIs-wDdbBegIQd7iHM011gqoHSW8WHjXe9KdznAvNDn7rv4m1F65LN0jRA/s1600-h/Mendes+Júnior,+Kennedy+e+Beth+Vasconcelos.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5223017779370565426" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjFhmm_QL-cx5bvYPkjmHnVsQ0NB2BhvsH9DdnjO2kWE7pXGi5OGAqQ4SnxYkSCBXQHxAP-f6-MvOhghIs-wDdbBegIQd7iHM011gqoHSW8WHjXe9KdznAvNDn7rv4m1F65LN0jRA/s320/Mendes+J%C3%BAnior,+Kennedy+e+Beth+Vasconcelos.JPG" border="0" /></a>Mendes Júnior, Kennedy e Beth Vasconcelos </div><br /><div align="center"> </div><div align="center"></div><div align="center"></div><div align="center"></div><div align="center"></div><div align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhKFr36ahytjaFk10a5dGqPQqiX1g6xUVqCuc3ul73lzP4f0UHg9O_eGNz_-7kxtHiCtb4qkB7mid9G1J7FQ0NC_KOIe4LusUW-u98-tywUz2wD6JBhcTzqe8c7-VwTcnbxox6ihg/s1600-h/Mendes+Júnior+e+Sebastião+Albuquerque.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5223016345953339122" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhKFr36ahytjaFk10a5dGqPQqiX1g6xUVqCuc3ul73lzP4f0UHg9O_eGNz_-7kxtHiCtb4qkB7mid9G1J7FQ0NC_KOIe4LusUW-u98-tywUz2wD6JBhcTzqe8c7-VwTcnbxox6ihg/s320/Mendes+J%C3%BAnior+e+Sebasti%C3%A3o+Albuquerque.JPG" border="0" /></a> Mendes Júnior e Sebastião Albuquerque</div><div align="center"></div><div align="center"></div>Mendes Júniorhttp://www.blogger.com/profile/06083854217559604868noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38570403.post-59485272246217123032008-07-13T17:09:00.004-03:002008-07-15T00:12:13.864-03:00Psicologia como ciência – a crise da subjetividade privatizada<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhPpnt1vtXKMzN6mMvSQbpkD5oS0K3a5NA3OGAYvKVvJjx7T0-WDVkGyWCMmo9UIQE3FNGzDRUm4-8G2RJ4KjhM6n4Vue_P1m-gnpFJjknylWwGnIaxL8_wMzyyyEHE4aPc5Ryq8g/s1600-h/Untitled+16.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5222594408677177602" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhPpnt1vtXKMzN6mMvSQbpkD5oS0K3a5NA3OGAYvKVvJjx7T0-WDVkGyWCMmo9UIQE3FNGzDRUm4-8G2RJ4KjhM6n4Vue_P1m-gnpFJjknylWwGnIaxL8_wMzyyyEHE4aPc5Ryq8g/s200/Untitled+16.jpg" border="0" /></a><br /><div align="justify"></div><br /><div align="justify"></div><br /><div align="justify">Uma questão interessante que, por certo, merece destaque no estudo do surgimento da psicologia como ciência no século XIX, na minha opinião, trata-se da subjetividade privatizada. No excelente trabalho Psicologia – uma (nova) introdução, dos professores Luís Cláudio Mendonça Figueiredo e Pedro Luiz Ribeiro de Santi, deparamo-nos com duas condições (fundamentais) para o conhecimento científico da psicologia: uma experiência clara da subjetividade privatizada e a experiência da crise desta mesma subjetividade. Mas o que vem a ser a subjetividade privatizada? Pelo que percebemos, estamos falando da nossa individualidade, dos nossos desejos, do nosso “eu”, enfim, daquilo que está dentro de nós e que somente nós temos contato. E quanto à crise? Bem, estaríamos diante das transformações culturais ao longo dos anos, tais como religiosidade, arte, valores, costumes etc., determinando, de certa forma, a subjetivação e a individualização. Mas é aqui que o homem percebe que conceitos como liberdade, individualidade e igualdade não passam de meras ilusões. Há uma perplexidade, inclusive quando descobre não existir muita diferença entre os homens.<br />No entanto, importa ressaltar – e o contrário seria difícil de entender –, que as transformações supracitadas se deram no seio da sociedade, socialmente, politicamente e economicamente, e somente a partir do reconhecimento da instância individual do homem dentro desta mesma sociedade é que a psicologia é aceita como ciência. Mas para isto estamos falando de três séculos: do Renascimento à Idade Moderna, e, durante este longo período, o homem chega a ser valorizado, diante da concepção de que ele seria o centro do mundo e totalmente livre para trilhar seu caminho (e Deus?), até a crise da soberania do “eu”.<br />Abordando de forma sucinta cada época, podemos afirmar que no Renascimento a figura de Deus parece ter se distanciado e se colocado sobre o mundo, fazendo com que o homem passasse a controlar a natureza. Há, portanto, uma valorização do homem, nascendo, por sua vez, o humanismo moderno. Um assunto, a meu ver, de extrema importância é que aqui surge a filosofia grega do ceticismo, para a qual era impossível ao homem um conhecimento seguro do mundo. Em suma: o homem começa a criticar e duvidar do próprio homem. Além do mais há um nascente individualismo, que acaba produzindo reações: racionalistas e empiristas, que, de acordo com os professores supracitados, tratam de estabelecer bases novas e mais seguras para as crenças e ações humanas.<br />A partir de então, a figura do homem volta a se sujeitar a uma ordem superior, ocorrendo a desvalorização da própria individualidade e o conflito da liberdade, conforme já anunciamos acima. Esta tal superioridade parte da religião (Reforma e Contra-Reforma), e o indivíduo passa a ser devidamente controlado. Buscamos, com isso, apenas retratar, mesmo que de forma rasteira, as fases pelas quais passaram a subjetividade privatizada.<br />Dando um salto até a modernidade, não esquecendo, é lógico, da idéia cética, o “eu” deixa de ser soberano. Mas por quê? Surge a problematização da crença em conhecimentos absolutos, e isto perpassa pelo Iluminismo, pelo Romantismo (“é um momento essencial na crise do sujeito moderno pela destituição do ‘eu’ de seu lugar privilegiado de senhor, de soberano”), pela filosofia nietzschiana, para qual as idéias de “eu” ou “sujeito” são interpretadas como ficções, incentivando muitas restrições ao seu ponto de vista, principalmente quando afirma que é ilusório o fazer humano, e pelas condições sócio-econômicas, momento em que os homens são reduzidos à dependência dos proprietários dos meios de produção, são explorados e violentados – não há liberdade, não há igualdade.<br />Com isso, claramente percebe-se a necessidade das crises da subjetividade privatizada, a fim de que a psicologia seja científica. Significa dizer que tais experiências induzem os homens a pensarem acerca das causas e do significado de tudo aquilo que fazem, causam uma reflexão do que somos, quem somos, como somos e por que tomamos determinadas ações. E, para tanto, a ilusão da liberdade e da igualdade são pedras fundamentais na construção dos questionamos humanos e, obviamente, na condução de projetos da psicologia como uma ciência independente, pois a crise da subjetividade requer uma solução, e é na psicologia o caminho a se percorrer.</div><br /><div align="justify"></div><br /><div align="justify">________________________<br />FIGUEIREDO, Luís; SANTI, Pedro. Psicologia: uma (nova) introdução. 2. ed. São Paulo: PUCSP, 2007. </div><div align="justify"></div><div align="justify">Mendes Júnior</div><div align="justify">* Publicado em Cronópios, em 07/07/2008;</div><div align="justify">** Painting by Romero Carrasco, "Untitled 16".</div>Mendes Júniorhttp://www.blogger.com/profile/06083854217559604868noreply@blogger.com20tag:blogger.com,1999:blog-38570403.post-85503599047562359102008-06-16T16:24:00.003-03:002008-06-16T16:29:51.562-03:00Vida de Viriato<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhhaGn6zA9xFLx1ejvvOesDafkZ99-GjInhLa_cCBynrQ8nefDiJ2eYXsZW7p0M4r7jbHgfGnOChlS4yOztSBYF4h9lIdLtKspocjRTM1VVITOMaT9XGE-Tb_lewFMb86zRfQqAOA/s1600-h/pm-28996-medium.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5212562679935171730" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhhaGn6zA9xFLx1ejvvOesDafkZ99-GjInhLa_cCBynrQ8nefDiJ2eYXsZW7p0M4r7jbHgfGnOChlS4yOztSBYF4h9lIdLtKspocjRTM1VVITOMaT9XGE-Tb_lewFMb86zRfQqAOA/s200/pm-28996-medium.jpg" border="0" /></a><br /><div align="justify">11/06/2008.</div><br /><div align="justify"></div><div align="justify">Freqüentava o Real Gabinete Português de Leitura há quatro anos, desde que fui morar no Rio de Janeiro, numa pensão miquelina de Botafogo. Ir todos os dias, no entanto, não importava ser conhecido. Meu medo me causava receio. Certamente, um deslize que me acompanhou desde Crime e Castigo. Confesso que, – não sem vergonha –, um troço esquisito e inexplicável me quedou ao anonimato. Não sei o porquê de ter dito isso ao médico, como se se relacionasse com a gordura que me obstruía a veia. O tenebroso acesso do coração se deu quando lia Lírica de João Mínimo, de Garret, na biblioteca. Descobriram-me com a cabeça e os braços estirados na escrivaninha. Fiquei assim por segundos. Voltei da vertigem a partir de uma voz de barítono rouco. “O mundo está desumano demais”, soltei mais esta ao médico. É que na confusão reclamaram do rumor, uma moça queria paz, caso contrário, iria ler na feira que montava banca perto dali. “Pois que fosse pro diabo!”, murmurei. A Coordenadora de Cultura estava inquieta pela mesa de inestimável valor; não se propôs a debulhar meu fastio. Tentei aclarar que não foi intencional: “O coração, senhora!” Não adiantou; enfezada, chamou-me de insano. A ambulância tardou em virtude do trânsito. “Estava na biblioteca. Na próxima, escolherei o local para uma ruinzeira, como se não fosse premente, hein, doutor!”, falei sarcástico, acomodado no corredor do hospital. Doutor Emo, (li na placa colada à gola do jaleco), tinha o rosto amassado e amarelo. Uma enfermeira fardola se aproximou. Nome? Viriato. Profissão? Escritor. (Notei um ar de superioridade). Estalou a língua e saiu; não carecia de mais saber. “E há melhor companhia do que os livros quando se adoece?”, perguntei ao doutor, que uma vez mais não correspondeu como eu desejava; considerava a leitura um grandessíssimo desrumar de vida e um desaprumo de cabeça. O mais triste é que morri. É terrível ter a perfeita noção da sua morte. Avisaram-me que era interino, até as arestas estarem aparadas. A ausência delas agravou meu estado, afinal um homem não pode fenecer limpo. E lá fui explicar que não cometera erros, (não roubara nem matara), enfim, nada que depreciasse a alma. Não era este o desejo? “Viriato, você foi um covarde!”, bradaram. O maior de todos os crimes: a covardia diante da vida. Lembro do caixão largo; era viciado em comida, mas a gula perdera seu posto no Livro dos Pecados para a bulimia. O féretro não era de madeira tão nobre quanto da escrivaninha. Como o reconhecimento não me ocorreu nem na morte, além dos vermes, o cupim tomará conta para que coisa alguma resista do que acabo de escrever donde estou, assim como de toda minha literatura.</div><div align="justify">Mendes Júnior</div><div align="justify">* Painting by Rafael Canogar, "Untitled (170)";</div><div align="justify">** Conto produzido especialmente para o Caderno Vida&Arte, Jornal O POVO, publicado na sua versão eletrônica em 15/06/2008. </div>Mendes Júniorhttp://www.blogger.com/profile/06083854217559604868noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38570403.post-14822533153555365012008-06-03T14:50:00.005-03:002008-06-03T15:40:18.250-03:00O poeta maldito...<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjHzj5-PCIV4RcSG-y4hIrIbS6wwjVOnzIbtJRQD8RVHKG8AbccTj50lr2Lwlg8r748sJZAioqPW6K05L2pu0J4U0cG5CQn7drJ614DRrHqdvfvStiMd6bDM_Gxd6eJRUi6nVrvKA/s1600-h/P6260037.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5207719485002534466" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjHzj5-PCIV4RcSG-y4hIrIbS6wwjVOnzIbtJRQD8RVHKG8AbccTj50lr2Lwlg8r748sJZAioqPW6K05L2pu0J4U0cG5CQn7drJ614DRrHqdvfvStiMd6bDM_Gxd6eJRUi6nVrvKA/s320/P6260037.JPG" border="0" /></a><br /><div align="center"><span style="font-size:78%;"><span style="font-size:85%;">(...)</span><br /></span><span style="font-size:85%;"><strong>9. Da Preparação do Epitáfilo</strong></span></div><div align="center"><strong><span style="font-size:85%;"></span></strong></div><div align="center"><span style="font-size:85%;">Bem sei: não te conformas com o pouco</span></div><div align="center"><span style="font-size:85%;">de todos os homens. E buscas o poema.</span></div><div align="center"><span style="font-size:85%;">E tendo em tuas mãos o papel e a pena</span></div><div align="center"><span style="font-size:85%;">refazes a vida. E nunca está perdida</span></div><div align="center"><span style="font-size:85%;">em ti canção.</span></div><div align="center"><span style="font-size:85%;">Habitas tua sombra e permaneces fiel.</span></div><div align="center"><span style="font-size:85%;">E podes fugir no dorso de um verso.</span></div><div align="center"><span style="font-size:85%;">Quanto ao mais é ir vivendo.</span></div><div align="center"><span style="font-size:85%;">E restaurando com amor</span></div><div align="center"><span style="font-size:85%;">o áspero chão.</span></div><div align="center"><span style="font-size:85%;"></span></div><div align="center"><span style="font-size:85%;">(...)</span></div><div align="center"><span style="font-size:85%;"></span> </div><div align="center"> </div><div align="center"><span style="font-size:85%;"></span></div><div align="center"><span style="font-size:85%;"><strong>"Breve Romance do Cavaleiro</strong></span></div><div align="center"><span style="font-size:85%;"><strong>e Poeta José Alcides Pinto</strong></span></div><div align="center"><span style="font-size:85%;"><strong>Mensageiro do Reino de Lúcifer"</strong></span></div><div align="center"><strong><span style="font-size:85%;">- Artur Eduardo Benevides - O Viajante da Solidão -</span></strong></div><div align="center"><strong><span style="font-size:85%;">In Os Amantes - Poesia - José Alcides Pinto</span></strong></div><div align="center"><span style="font-size:85%;"></span></div><div align="center"></div>Mendes Júniorhttp://www.blogger.com/profile/06083854217559604868noreply@blogger.com2