30 agosto, 2008

Indicações Musicoliterárias

Capa Selo Dubas

Capa Selo Elenco

Queiram me desculpar pela demora: estive ausente. Mas, - se bem lembro -, tratava de mencionar discos "envolventes" da Bossa Nova, pelo seu aniversário. A música, no entanto, por trás de sua melodia e letra, toda sua arquitetura, a emoção que assola o coração mais sensível, esconde personagens interessantes, vistas em sua maioria quando alguém resolve dividir com o grande público histórias de bastidores, peculiaridades, um pouco de suas vidas, (respeitada obviamente a intimidade do amor), algo de suas lutas, os obstáculos etc. Pois bem, três mulheres que devem constar em qualquer manual de Bossa Nova, sob pena de uma falha imperdoável, são Sylvia Telles, Dolores Duran e Maysa, a mulher que nunca deixou de parecer sofrida. Como disse o biógrafo da Bossa Nova, Ruy Castro, em "Chega de Saudade", estas três damas, com suas canções de dor-de-cotovelo, "foram as cantoras mais influentes da década de 50". Pena que morreram muito novas: Dolores com 29, Sylvinha com 32 e Maysa com 41.

Pretendo dividir a prosa, começando com Sylvinha Telles. Esta mulher de olhos perfeitos e sorriso largo, foi "descoberta" cantora pelo pai durante uma apresentação no programa "Calouros em desfile", de Ary Barroso, na Rádio Tupi. Isto numa época em que mulher cantar e tocar era, de certa forma, inaceitável. Mas o pai gostou do que ouviu, não bastasse ter namorado João Gilberto em 52, e deduzia não ter mais meios para impedir a filha. Tempos depois, Sylvinha foi convidada a trabalhar num teatro de revista, local de pouca reputação, para cantar a música "Amendoim torradinho", de Henrique Beltrão, e não recusou, mesmo diante do protesto de alguns amigos e do irmão, Mário Telles. A partir daí, a Odeon convidou Sylvinha a gravar "Amendoim torradinho"; era julho de 1955; além do amendoim, tinha a música "Desejo", de Garoto; as rádios adoraram. Tratava-se Pronto, Sylvinha viraria estrela do rádio, do disco e da televisão, a primeira cantora de Bossa Nova do Brasil, segundo Roberto Menescal.

Como uma justa homenagem a uma das mulheres mais importantes da Bossa Nova, e da qual pouca gente lembra e fala, indico um disco sensacional: "It might as well be spring", com o selo Dubas, cuja edição original é de 1965, pela Elenco, com arranjos de Lindolfo Gaya. O disco é uma reunião de clássicos da Bossa com versão em inglês, portanto, um desfile de músicos de primeira linha: Menescal, Bonfá, Luiz Eça, das Neves, Russo do Pandeiro, entre outros tantos. Felizmente, mesmo tratando de versões americanizadas da música brasileira, Menescal nos conta que Ray Gilberto, o versionista que atuou muito na ponte Estados Unidos - Brasil, veio morar por aqui e trabalhou diretamente com cada um que participou do disco - não queria perder a métrica. O disco virou referência e muitos artistas americanos gravaram alguma de suas músicas, tal foi o caso de Sarah Vaughan.

A seleção é maravilhosa: "Você" e "Tetê", de Menescal e Bôscoli; "Rain (Chuva)", de Durval Ferreira e Pedro Camargo; "Balanço Zona Sul", de Tito Madi; "Pardon my english (Samba torto)", de Tom e Aloysio de Oliveira; "If you went away (Preciso aprender a ser só)" e "The face i love (Seu encanto)", de Marcos e Paulo Sérgio Valle; e outras. Por fim, um ponto interessante que deve ser ressaltado: as capas tanto da edição da Elenco quando da Dubas são do lendário Cesar Villela, que não tocou nenhum instrumento nem cantou, mas que marcou sem dúvida a Bossa Nova.

Esteja dito, mas continua.

Mendes Júnior

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