11 maio, 2008

Indicações Musicoliterárias



Infelizmente, não almoçarei com minha mãe hoje. Creio que todos estão almoçando com suas mães, afinal, eis seu dia, senão todos. Já descobri que lá em casa se vai de risoto de frango e um creme de uva, sob o atento molhar de uma chuva inofensiva que desce desde ontem na Princesa do Norte - uma feliz trégua ao calor quase sempre insuportável e imanado ao solo da cidade - um presente às guerreiras que ainda acalentam marmanjos como nós. À distância dos corpos, às inconsequências de nossas falas, à saudade do abraço que não demos e à falta de senso das gentes, um olhar de reprovação e um canto de arrependimento pela falta. Falando em canto, amanheci disponível ao tango "Adiós Nonino", talvez pelo domingo das mães. "Adiós Nonino", sem dúvida, é uma das coisas mais belas que meus ouvidos puderam escutar até o presente instante, embora uma das mais tristes também. De cada dez vezes que me proponho a escutá-la, em cinco oportunidades choro um choro de órfão. Mas Astor Piazzolla não é apenas isto nem tampouco (somente) "Muerte de un Ángel". Aqui, duas dicas bem distintas da música de Piazzolla para desfrutar no domingo das mamas, embalado por um tinto de Mendoza: "Piazzolla - Complete Music for Flute and Guitar" e "Astor Piazzolla - The soul of tango, Greatest Hits". Bem, vamos por partes. O primeiro disco é clássico. Trás as Cinco Peças para violão de Piazzolla: campero, romántico, acentuado, tristòn e compadre - uma mistura de tango e muitos efeitos instrumentais, composta em 1980. No mesmo dico temos os tangos para flautas, docemente levadas pelo flautista Irmgard Toepper, nascido em Beckum, Westphalia. Por fim, a magnífica junção do violão e da flauta, que é denominada a história do tango, ou seja, a "Histoire du Tango, for flute and guitar", dividida em bordel, café, nightclub e concert d'aujourd'hui. O violão segue por conta do argentino Hugo Germán Gaido. O disco foi gravado na igreja Martin Luther, em Detmold, na Alemanha, de 14 a 17 de março de 1998, seis anos depois do falecimento de Piazzolla, e é um pecado de bom.
O outro disco é uma espécie de coletânea. Na capa se vê uma bela imagem de bandolim em vermelho sobre um fundo branco. Um álbum duplo em que é possível ouvir um Piazzolla grande com orquestra, com "Le quintette", com "Le quintette de tango contemporain", com "Le sextette" e com "Le noneto", além de canções gravadas para o cinema de Fernando Solanas: os filmes "Sur", com a música "Vuelvo al sur", o vocal de Roberto Goyeneche - "El Polaco", e "Tango, el exilio de Gardel", de 1988 e 1985, respectivamente. Os clássicos "Adiós nonino" e "Muerte del Ángel" se misturam com "Libertango", "Tres minutos con la realidad" e "Tango Ballet", bem como com os concertos para bandolim, piano, corda e percussão "Allegro Marcato", "Moderato" e "Presto", gravados ao vivo no primoroso e imponente Teatro Colón, Buenos Aires, em 11 de junho de 1983. A música de Piazzolla lembrada em dia de brilho. Gracias, hermanos!
Esteja dito.
Mendes Júnior
* Painting by Anya Gerasimchuk, "Piazzolla".

Um comentário:

Isabela Pinho disse...

muito merci pela dica.

ps.: eu tb nao almocei com minha mae. alias, com ninguém.

bjs