19 maio, 2008

Quanto maior estiver...


19/05/2008.


(Voz). Um poema relativamente célere que resolveu em voltas o labirinto humano. Em meio ao caos de maio e aos adjacentes da serra, chovia gotas de cristais no café requentado com leite de cabra. E já era manhã quando o espetáculo foi anunciado e o pão com manteiga deixado na ponta da mesa. A toalha de plástico não insistiu com o desjejum. O pão escorregou. Vexou-se a ponto da cadeira de bambu, que tinha o encosto frouxo, ficar também deitada ao chão de terra batida. (Barulho de queda). Era um moleque ainda, de andar de pés descalços, roupa furada, sem cueca e nariz escorrendo. Uma pipoca doce à porta. (Gaitada sonora de felicidade). Catorze ou Quatorze centavos o ingresso. Precisaria engraxar dois sapatos apenas, somente dois, um mais um sapato para o tanto da entrada com a pipoca. Preços populares. Depois do banho, somente após, o lustre em alguém. Palhaços, mágicos, animais, mulheres, enfim, o trapezista. (Aplausos de aprovação). Sonhava no ar, no céu, na lua enquanto entornava o corpo na rede olhando pela janela. (Batida de coração). Nada de bicicleta. Asas! Asas! Asas! (Grito). E a mão escorregou, pegou o vazio. (Agitação ou Espanto). O balanço correu sozinho nas alturas. Havia uma tela de proteção, uma rede, uma teia. Sorte do trapezista. Foi por pouco, muito pouco. (Silêncio).
Mendes Júnior
* Photo by André Adeodato, "Teia de cristal".

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