Resolvi abrir meu baú do jazz. Pois bem, para quem ainda não sabia, tenho um baú do jazz. Para chegar à denominação não gastei mais do que dez segundos: é um baú de vime repleto de discos de jazz – simples assim! É importante ressaltar, desde logo, que também tenho um baú de música brasileira, mas é uma outra história. Como dizia, hoje resolvi escancarar a tampa e retirar um bom disco de jazz; aliás, saquei não um bom, mas um excelente disco: Nancy Wilson/Cannonball Adderley, do selo Capitol Jazz – A Blue Note Label.
Julian “Cannonball” Adderley, nascido na Flórida, em 1928, foi uma peça central e ímpar para o jazz moderno. De acordo com o jornalista Fernando Jardim, do site Ejazz, Cannonball, que significa bala de canhão, era um apelido de infância de Adderley, mas que também queria dizer cannibal, dado seu grandioso apetite. Começou a estudar sax alto aos oito anos de idade, demonstrando, apartir daí, uma verdadeira aptidão para este instrumento. Cannonball Adderley, no entanto, somente subiu ao palco, pela primeira vez, em Nova Iorque, muitos anos depois, convidado a tocar com a banda de Oscar Pettiford. O talento de Adderley despertou a atenção de Miles Davis, que o incluiu em seu sexteto mais famoso, ainda composto por John Coltrane, Red Garland, Paul Chambers e Philly Joe Jones. Ficou ao lado de Miles Davis de 1957 até 1959, tendo, inclusive, participado do lendário disco Kind of Blue, bem como de Milestones e Monk and Miles at Newport.
Depois de se desligar de Davis, juntamente com seu irmão, Nat Adderley, Cannonball resolveu aproximar a música africana com o jazz. Gravou com muita gente boa, entre elas está o próprio Coltrane, Bill Evans, Milt Jackson e Nancy Wilson, que gravou com ele o disco que agora toca na minha vitrola. Morreu de ataque cardíaco quando se apresentava em Gay, Indiana, em 1975.
Na capa de Nancy Wilson/Cannonball Adderley, um aviso, em tom laranja, relevante: “41 minutes e 59 seconds of jazz!”, e uma troca de olhares sublime entre Nancy e Adderley, com um fundo branco. O disco foi gravado entre junho e agosto de 1961, na cidade de Nova Iorque, com a produção de Tom Morgan e Andy Wiswell. Logo na primeira faixa, Save your love for me, percebemos a grandeza da voz de Nancy Wilson, maravilhosamente seguida pelo sax alto de Adderley; emoção extra nos causa a desenvoltura desta mesma voz levando The old country e Little Unhappy. E, por fim, abandone o peso de qualquer problema de vida quando ouvir o sax de Adderley em I can’t get started. Ainda fazem parte do disco os músicos Nat Adderley (cornet), Joe Zawinul (piano), Sam Jones (bass) e Louis Hayes (drums). Não esqueça de abrir uma garrafa de Grand Theatre, Bordeaux.
Esteja dito.
Mendes Júnior
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