Nos últimos dias, muito tem se falado em Gabriel García Márquez. A razão para tanto é simples: Cem anos de solidão, sua obra mais conhecida, está completando quatro décadas. Não se pode, e isto é deveras claro, deixar de enaltecer a grandiosidade deste livro, mas Gabo, forma carinhosa como o Nobel de 1982 é conhecido, sentou para escrever outras histórias não menos fantásticas, no sentido de maravilhosas, embora de espessuras modestas, como é o caso de Ninguém escreve ao Coronel, cujo título original é El Coronel no tiene quién le escriba, escrito em 1957, na cidade de Paris. Então com 29 anos, o colombiano conta a história de um Coronel reformado que espera o pagamento de sua aposentadoria através do correio, que aparece na cidade uma vez por semana: sexta-feira, e, enquanto o dinheiro não chega, luta para sobreviver, juntamente com a mulher asmática e um galo de briga que pertencera ao filho morto. Em pouco mais de noventa páginas, García Márquez “satiriza a tortuosa burocracia dos estados latino-americanos” em uma emocionante história. Antes de Crônica de uma morte anunciada (1981), o colombiano considerava Ninguém escreve ao Coronel seu romance mais bem resolvido, e é importante ressaltar que ele foi escrito e reescrito nove vezes. O livro reflete ainda um pouco da dificuldade financeira pela qual passava o desempregado Gabriel García Márquez em Paris. A obra virou filme pelas mãos do mexicano Arturo Ripstein, em 1999. Vale a pena conferir ambos.
“A mulher desesperou-se.
— Enquanto isso, o que é que nós vamos comer – perguntou, agarrando o Coronel pelo colarinho.
Sacudiu-o com força.
— Diga, o que nós vamos comer.
O Coronel precisou de setenta e cinco anos – os setenta e cinco anos de sua vida, minuto a minuto – para chegar àquele instante. Sentiu-se puro, explícito, invencível, no momento de responder:
— Merda.”
(Trecho de Ninguém escreve ao Coronel)
“A mulher desesperou-se.
— Enquanto isso, o que é que nós vamos comer – perguntou, agarrando o Coronel pelo colarinho.
Sacudiu-o com força.
— Diga, o que nós vamos comer.
O Coronel precisou de setenta e cinco anos – os setenta e cinco anos de sua vida, minuto a minuto – para chegar àquele instante. Sentiu-se puro, explícito, invencível, no momento de responder:
— Merda.”
(Trecho de Ninguém escreve ao Coronel)
Esteja dito.
Mendes Júnior.
Um comentário:
Cem Anos de Solidçao é realmente maravilhoso! Quanto a este, ainda não o li, mas juro que fiquei na vontade!
um grande beijo Mariana
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