Depois de merecidas férias na Argentina - Buenos Aires e Mendoza - e um tantão de vinho tinto e cigars Montecristo, volto alegremente às publicações, no caso, com as minhas modestas indicações, (pois quem sabe alguém as esteja lendo). Sem delongas, fui induzido a me apaixonar pelo álbum Zamazu, do pianista cubano Roberto Fonseca, através do Dj Marquinhos e do poeta William Lial, professores da boa música que lecionam na Desafinado. O disco chega às lojas pela Biscoito Fino e foi gravado na ponte Cuba-Brasil. É saboroso de escutar pelas misturas do afro- jazz e da música brasileira, como nas faixas Zamazu e Zamazamazu, e também por causa do jazz puro, como Llegó Cachaíto, com o homenageado no contrabaixo, e Clandestino. Uma particularidade que não pode ser omitida: Roberto Fonseca trabalhou com dois grandes nomes do Buena Vista Social Club: Ibrahim Ferrer (El Niejo) e Omara Portuondo (Mil Congojas). O vinho deve ser Mapema (Malbec) 2004.
Mais uma vez cito o Dj Marquinhos: foi o músico quem me garantiu que adquirir The spoiler, do grande Stanley Turrentine, era uma acertada decisão - não estava errado. Importado, ou seja, com um precinho "salgado", porém mágico e completo. As faixas You´re gonna hear from me e Maybe september nos provam o quê Turrentine saber fazer (e muito bem) com seu sax. Gravado em New Jersey (1966), tem o selo impecável da Blue Note, e conta ainda com Bob Cranshaw, McCoy Tyner, Blue Mitchell e outros. Um detalhe: os dicos hoje encontrados trazem uma faixa que não fez parte do original - Lonesome Lover. Para combinar: uma noite, uma companhia e uma garrafa de Zuccardi Zeta 2003.
Por fim, estou relendo Cem anos de solidão, pois até hoje não consigo acreditar que alguém possa ter construído uma narrativa tão forte, mas aos ciganos de Macondo tudo é possível, diria um velho amigo. Gabriel García Márquez indico a qualquer hora, em qualquer lugar e a qualquer tempo, mas quero aproveitar o final destas mal traçadas linhas para fazer uma justa homenagem ao poeta e romancista José Alcides Pinto, tão esquecido nestas plagas; nascido no Alto dos Anjicos de São Francisco do Estreito, distrito de Santana do Acaraú, no Ceará, no Brasil, sua literatura é universal. São mais de sessenta livros... sim, mais de sessenta! Alguns títulos são raros, mas toda busca, quando vale, deve ser incessante, e isto serve para os livros do José Alcides - que não gosta de ser chamado de "senhor", mas de "poeta" ou de apenas "você" -, tais como O amolador de punhais, Fúria (segundo o próprio, escrito durante 24 horas seguidas), Relicário pornô, Senhora Maria Hermínia (morte e vida agoniada), A divina relação do corpo, João Pinto de Maria (biografia de um louco), O Criador de Demônios, Estação da Morte, O editor de insônias etc, etc, etc. Indico também o trabalho do Paulo de Tarso Pardal - O Espaço Alucinante de José Alcides Pinto - para os interessados, claro.
Esteja dito.
Mendes Júnior.
* Photo by Silvana Tarelho
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