22 setembro, 2007

Manual de sobrevivência em época de eleição (ou uma volta ao templo do futebol)


13/07/2006


Foi dado o pontapé inicial das eleições deste ano. Acabada a Copa do Mundo, é momento de decidir quem serão nossos representantes para os próximos quatro anos. Tal qual o esporte bretão, a vitória se dá de forma coletiva. O “p” se coliga com o “p” que, por sua vez, alia-se ao “p”, que traça uma proposta de jogo e vai a campo. Ganha aquele que apresenta as melhores táticas, diante dos momentos mais críticos; alguns até revertem placares indecentes, através do fair play ou da prática antidesportiva. Porém não há aqui a famosa caixinha de surpresas (onde tudo pode acontecer) nem seremos meros espectadores inertes, movidos por uma sensação irracional. É necessário não esquecer de que somos cidadãos e de que vivemos em um território, aparentemente, democrático; portanto, somos nós os donos da bola.

A primeira grande jogada é conhecer os candidatos. Eles sempre serão muitos; alguns jamais sequer ouvimos falar ou o vimos falando; outros nem iremos imaginar disputando uma vaga – há tempos ociosa – de síndico de nossa favela vertical; têm aqueles que vão estar de férias (leia-se: licença) e que, claro, não interromperemos; e, finalmente, dois ou três que acreditam nas próprias palavras eleitoreiras. E os sérios? Estes vocês encontram, vez ou outra, escondido em algum lugar no gramado. Em meio aos jogadores, existem os narcisistas, os maquiavélicos, os profanos, os frígidos, os esdrúxulos, os apolíticos e os laranjas – só para citar algumas letras do alfabeto. E os sérios? Lá vêm vocês novamente com esta história. Eles estão na letra “s”, pronto!

Nunca é demais estar atento à publicidade partidária, afinal, a ciência eleitoral ainda não foi capaz de elaborar maneira mais (in)eficaz de colocar o eleitor cara-a-cara com seu representante. Porém, muito embora haja um bombardeio sonoro e uma poluição visual, é preciso ter em conta de que nem tudo é perfeito. Santinho e outdoor, por exemplo, são cópias fidedignas de uma genética, às vezes, longe da beleza. O candidato não deve ser escolhido pelo que tem fora, mas pelo que permeia suas intenções. É bom tomar cuidado com os candidatos que endereçam cartas às residências. Num país heterogêneo feito o nosso difícil acreditar que o correio não tenha se enganado quando enviou para Irauçuba uma carta idêntica a que entregou em Fortaleza. Para aquela proposta indecente de pintar o muro de nosso lar dê uma vaia moleque e corra pela tangente. Aproveite para esquecer o palanque munido de cantores sertanejos – nós não queremos mais ouvir falar de circo.

Certifiquemo-nos de que iremos rir, chorar e odiar o horário eleitoral gratuito. Por alguns instantes (às vezes intermináveis) sua televisão – que você ainda nem terminou de quitar o crediário – lhe proporcionará irretocáveis atuações. Nem toda dramaticidade do mundo deverá fazer você perder de vista o porquê da sua atenção: precisa-se de um candidato. Não esqueça de tomar nota do número da camisa do jogador predileto, já que isto não é feio: feio é não ter para quem passar a bola. Aproveitemos, pois pouquíssimas coisas permanecem gratuitas nesta época do ano. E se por acaso você for acometido por um certo déjà-vu, não se engane, eles não são os mesmos desportistas da Copa passada, apenas que resposta de jogador de futebol é quase sempre igual.
Mendes Júnior
* Publicado no Jornal O Noroeste, em 14/07/2006;
** Photo by Jeremy Webb, "Back Study".

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